Splits alcançam a maturidade no mercado brasileiro

Tudo isso contribuiu para que um artigo antes de luxo, adquirido somente pela classe A, passasse a ganhar espaço em comércios e residências, onde já é encarado por muitos como uma necessidade.

Por proporcionar mais conforto, se adaptar facilmente aos diversos ambientes e possuir um perfil versátil, é consenso que o produto agrega valor aos empreendimentos imobiliários, inclusive os projetos residenciais, atualmente um grande mercado em potencial.

Outro vento favorável aos splits foi a sua entrada, em 2003, no Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), que informa por meio de etiquetas a eficiência energética de diferentes modelos e capacidades.

Com a finalidade de conquistar esse número crescente de novos e muitos consumidores, fornecedoras de splits vêm lançando no mercado, freqüentemente, novos produtos, conceitos e tendências.

Mesmo assim, ninguém discorda que países de estações climáticas fortes e bem definidas tem no uso de ar-condicionado um hábito bem mais arraigado. “Em 2006, o mercado de splits no Brasil vendeu entre 400 e 450 mil unidades, enquanto na Argentina esse número chegou a 950 mil”, exemplifica o gerente geral de Linha Branca da LG, Ivo Luft.

Ele ressalta, ainda, para ilustrar seu raciocínio, que a Taxa de Penetração do Mercado em terras brasileiras para ar-condicionado, de uma forma geral, ainda é pequena. No segmento de refrigeradores, a taxa chega a 95%, ou seja, quase todos os lares possuem o produto, enquanto o índice no caso dos televisores ultrapassa os 100%, contra apenas 15% no segmento de condicionadores. “Entretanto, o mercado está em franca expansão e vive, hoje, o seu melhor momento”, reconhece Luft.

Franca expansão

O consumo relativamente modesto em comparação ao que ocorre em outras partes do mundo não invalida, porém, a tese de que o conforto térmico deixou de ser um item supérfluo para boa parte dos brasileiros. “Em grandes metrópoles ou pequenas cidades do interior do País, as pessoas necessitam desse conforto para desempenhar melhor o seu trabalho, tolerar horas de trânsito ou passar bons momentos com as suas famílias.

Essa gradativa mudança cultural, combinada à queda dos preços dos aparelhos e ao maior esforço de divulgação empreendido por fabricantes e distribuidores , vem proporcionando o crescimento do mercado, no entender de Adhemar Magrini Liza, gerente de Distribuição de Mini-Splits da Johnson Controls, nome mundial que hoje detém a marca York.

Nos últimos meses, segundo ele, diversos fatores contribuíram para o desenvolvimento positivo do segmento. “O aumento do poder aquisitivo da população, a facilidade de crédito e a diminuição dos preços dos aparelhos vêm impulsionando as vendas”, revela Andréa Aponi, gerente geral para as unidades microondas e condicionadores de ar da Whirlpool S.A., atual detentora da marca Consul.

A opinião é compartilhada pelo presidente da Midea Brasil, Natanael Santos de Souza. “Os custos dos splits estão se ajustando ao poder de compra do brasileiro e o que antes era consumido pelas classes A e B hoje já tem grande penetração também na C”, analisa.

Quem confirma essa tendência é Ricardo Capistrano, gerente comercial da Migrare, empresa que vem crescendo entre 25% e 40% ao mês. “Apostamos nesses consumidores que, muitas vezes, não têm condição de comprar à vista, mas compram em parcelas”, observa.

Facilidades crescentes

Beleza, tecnologia e qualidade atualmente são ingredientes básicos nos projetos de construção, acabamento e decoração de ambientes comerciais e residenciais. Dessa forma, construtoras, engenheiros e arquitetos já planejam as atuais edificações com o ponto padrão preparado para a colocação do split, como afirma o coordenador de Marketing da Komeco, Leonardo Minozzo. “Isso facilita muito a vida do consumidor na hora de escolher seu ar-condicionado, pois ele sabe que poderá investir em um produto de qualidade, bonito, com baixo nível de ruído, mais acessível e condizente com o estilo de vida contemporâneo”, diz Minozzo, enfatizando ainda que, a cada ano, o mercado de splits dá saltos entre 50% e 60%.

Em um tempo não muito distante, porém, os aparelhos do gênero esbarravam em obstáculos arquitetônicos na hora da instalação, fato que hoje preocupa bem menos. “Essas barreiras, que antes eram vistas como vilãs, foram quebradas nos últimos anos”, afirma Capistrano, da Migrare. “Os arquitetos já idealizam os ambientes com o split integrado a eles”, constata.

Mas o profissional revela-se preocupado com a capacitação insuficiente apresentada por muitos instaladores. “A qualificação desses profissionais é uma das preocupações da Migrare, que tem realizado, inclusive, workshops para projetistas, instaladores e vendedores”, acrescenta.

Já o supervisor de Marketing da Electrolux do Brasil, Felipe Drago, inclui o clima entre os aliados dos splits no País. “O fenômeno El Niño, que se arrastou durante os primeiros meses de 2007; o clima seco nas principais cidades do País e o inverno pouco rigoroso influenciaram no aumento da demanda”, lembra ele. “Além disso, há alguns anos era impossível imaginar um modelo split sendo vendido a R$ 1.000,00 como hoje ocorre, num mercado onde os produtos estão cada vez mais competitivos com a finalidade de atender um mercado que pede e exige preço”, acrescenta.

Para Alex Rodrigues, diretor da St Louis do Brasil , o sucessor natural do aparelho de janela também é sinônimo de um grande investimento em médio prazo. “Em apenas um ano após a compra o consumidor consegue cobrir o custo de aquisição”, justifica.
A diretora da De´Longhi, Neusa Pontes, é outra profissional da área que reconhece haver no atual mercado vários fatores favoráveis. “O segmento de splits está passando por visíveis mudanças, com produtos modernos, que complementam a decoração dos ambientes e começam a ter maior presença nas grandes redes de varejo”, comemora.

Influências econômicas.

A taxa de câmbio, que vem empurrando ladeira abaixo a cotação do dólar frente ao real, é um dos motivos unânimes entre os fabricantes e importadores de splits, quando questionados sobre as principais causas da inegável popularização do produto.

Para Felipe Drago, da Electrolux, o cenário econômico brasileiro é altamente positivo nos dias de hoje. “As taxas de juros vêm diminuindo a cada dia, o dólar atingiu níveis recordes de queda e a população está mais propensa a consumir”, enumera.

Para Ivo Luft, da LG, a crescente diminuição dos juros é mesmo um grande propulsor de vendas. “Esse cenário faz com que o parcelamento chegue mais perto do consumidor. Felizmente, estamos vivendo uma fase de expansão do crédito”, analisa o executivo.

O presidente da Midea Brasil, por sua vez, acredita até que o setor de splits esteja passando hoje por momento semelhante ao vivido em 1997, um ano inesquecível para o setor. “Esse momento é muito bom e a hora certa para consolidar esse tipo de aparelho no mercado de refrigeração nacional”, avalia Natanael Souza.

Ninguém pode negar, portanto, haver um certo consenso na percepção de que a economia atual conspira a favor dos splits.

Mas, como toda moeda tem dois lados, os mesmos itens que incrementam o mercado de splits trazem, hoje, algumas preocupações. O diretor superintendente da Springer Carrier, Toshio Murakami, por exemplo, aponta um aspecto negativo em decorrência da queda livre do dólar. “Estamos vivendo quase um processo de desindustrialização do setor. Há alguns anos, as empresas brasileiras conseguiam manter custos e preços competitivos no mercado internacional, o que já não ocorre”, lamenta.

Ivo Lufti, da LG, revela que a sua empresa teve de investir em outras ações para escapar de problemas com o câmbio. “A queda da moeda americana já nos preocupou bastante, pois produzíamos toda a nossa linha de splits em Manaus, o que passou a se tornar inviável. Solucionamos essa questão com a importação de aparelhos diretamente da Coréia”, conta o diretor.

O gerente comercial da Gree Electric Apliances, Cláudio Loureiro Vares, também aponta outros três aspectos macroeconômicos que podem influenciar negativamente o mercado de splits: a atual geração de energia aquém das necessidades brasileiras; a alta carga tributária e os elevados custos das matérias-primas, cujos constantes reajustes comprometem os custos finais dos equipamentos. “Esses são pontos que não podem ser descartados em nosso segmento”, ressalta.

No entanto, também há quem identifique problemas nas próprias práticas comerciais do setor, independente de fatores mais amplos como o câmbio.

É o caso do diretor da Segtron, para quem o momento atual poderia ser bem melhor. “Mas, dentro de nossa filosofia de longa data, continuamos a atender o mercado com o nosso diferencial relativo ao atendimento e ao cumprimento da garantia,mantendo assim a fidelização de nossos parceiros, sem participar da guerra de preços que tanto prejudica o nosso mercado”, assegura Arnaldo Segal.

Para Luís Carlos Padilha de Lima Leitão, diretor Comercial da Arclima, outro equívoco em curso na área vem sendo cometido por algumas empresas e clientes que acham o split uma solução que pode ser aplicada a tudo. “Isso não é verdade, pois se fosse não existiriam outras tecnologias. Em resumo, cada tecnologia de climatização tem o seu espaço”, apregoa.

Com relação ao aviltamento das tabelas como recurso extremo para atrair a clientela, ele concorda com Segal. “O preço tem sido um grande aliado, porém muitas empresas vêm praticando valores abaixo do possível, deixando com isto quem trabalha serio em condições complicadas”, reclama.

Já para Gerson Dias de Moraes, da A.Dias, o fator energético constitui hoje o principal motivo de preocupação. “Se o Brasil não investir urgentemente no setor de energia e o Produto Interno Bruto crescer acima dos índices projetados, de 4% a 5% ao ano, poderemos ter sérios problemas em breve”, prevê o dirigente de uma das principais revendas paulistas de condicionadores de ar, em cujo portfólio os splits ocupam posição de destaque.

A taxa de juros, apesar do seu atual viés de baixa, também é apontada como ponto negativo por profissionais como Adhemar Magrini, da Johnson Controls. “De certa forma, ela inibiu o início de projetos e aquisições para aqueles que necessitam de financiamento. Por isso, muitas vendas feitas pela nossa empresa utilizaram e devem continuar utilizando linhas de crédito do exterior”, explica.

Na opinião de Marcelo Lemes, gerente comercial de Unitários da Trane, existe outro ponto importante a ser ponderado com cautela. “Não podemos deixar de nos preocupar com o avanço das importações por empresas oportunistas, que miram exclusivamente os negócios, sem se preocupar com os serviços de pós-venda”, adverte.
Tendências

Indústrias, distribuidoras e profissionais do setor são unânimes ao afirmar que está ocorrendo no Brasil uma gradual substituição dos aparelhos de outras modalidades pelos splits, um movimento, aliás, já presenciado em grande parte do mundo.

“A produção desses condicionadores vem aumentando, com um custo de fabricação cada vez menor. Com isso, já há vários modelos mais em conta do que os condicionadores de janela, cuja demanda foi de 8% em 2006, contra 58% do tipo Split”, compara Gerson Dias, da A. Dias.

A expectativa da Gree Electric é semelhante, já que a empresa espera que o segmento responda por cerca de 70% do volume total de aparelhos instalados no País, já nos próximos dois anos,. “Seguindo a atual tendência de maior qualidade, designers inovadores, detalhes diferenciados e redução no consumo de energia elétrica, os splits conquistarão definitivamente o mercado”, reforça Cláudio Vares.

Na mesma linha, Toshio Murakami, da Springer Carrier, acredita no aumento das vendas de aparelhos capazes de reduzir custos na mesma proporção em que ampliarem o conforto térmico do cliente. “Nesse contexto, haverá também um crescimento acentuado nos equipamentos de menor capacidade, especificamente na linha Hi-Wall, cujo foco é residencial”, analisa.

Para Alex Rodrigues, da Saint Louis, os splits devem prevalecer cada vez mais devido, principalmente, ao item energia. “Nos Estados Unidos, por exemplo, quase não existem aparelhos janela, pois eles não conseguem se encaixar nos padrões estabelecidos. Isso acontece não apenas por questões financeiras, mas também por economia energética de toda uma nação”, diz ele, arriscando que não será diferente em nosso país.

Natanael Souza, da Midea Brasil, acredita que num breve futuro haverá mudanças no segmento, como a popularização das capacidades 7.000, 9.000 e 12.000 BTU/h, que estão entrando muito forte no mercado de varejo.

Outras tendências apontadas por ele incluem a utilização de sistemas inteligentes para o acionamento a distância e também a queda de custos do Volume de Refrigerante Variável .

Por sinal, outro caminho sem volta na análise dos especialistas é mesmo a substituição da água gelada e sistemas múltiplos pelo emprego do VRV, que combina tecnologia eletrônica a sistemas de controles microprocessados.

A preservação do meio ambiente também é uma questão que tende a ser cada vez mais valorizada pelos fabricantes, na avaliação de Ricardo Capistrano, da Migrare. Ele afirma que o Brasil deve seguir a tendência mundial e utilizar novos gases ecológicos, que não agridem a camada de ozônio. “O segmento deve adotar essa visão futurista, como o restante do mundo”, ressalta.

Andréa Apponi, da Whirlpool, concorda com Capistrano. “Essa é uma preocupação essencial para as empresas responsáveis com o meio ambiente. No nosso caso, estamos comprometidos com o desenvolvimento de soluções que possam melhorar, cada vez mais, a qualidade dos nossos produtos e da própria sociedade”, conclui a profissional.