Setenta anos. E muito bem vividos!

A maior prova de que a principal referência nacional no ensino de refrigeração e ar condicionado continua jovial, foi a inclusão de uma atividade, ainda considerada nova até mesmo no mundo corporativo, na semana de 21 a 25 de maio, quando uma série de eventos especiais comemorou sete décadas de sucesso.

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Seu nome é Hackaton Maker, e pode ser resumida como uma maratona de ideias inovadoras, propostas por grupos compostos por talentos de várias origens e formações, em busca de respostas aos desafios sugeridos por empresas de determinada área.

Fachada da escola senai, templo da refrigeração em São Paulo
Fachada da unidade à época da inauguração, no final dos anos 1940

No caso específico do HVAC-R, foram convidados para a experiência pioneira os players Chemours, Danfoss, Aeris Tecnologia e a própria Escola, que mantiveram durante três dias quatro equipes de cinco pessoas mobilizadas, cada qual incumbida de, realmente, pensar fora da caixa.

O grupo vencedor foi o We Ar, que desenvolveu uma rede social especializada para os profissionais do setor, demanda sugerida pela Chemours que a equipe formada por Cléo de Araújo Moura, Marcia Francischelli, Flavio Gomes de Macedo, Rodrigo Gabriel Pires, Eduardo F. Scarabotto e Cicero L. Yabi respondeu com muita assertividade, ao criar uma plataforma criativa e, ao mesmo tempo, amigável.

Mecânica

Esta foi a nona atividade do gênero desenvolvida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que desde 2013 organiza Hackathons reunindo participantes dos mais diversos segmentos da indústria paulista.

Segundo Manoel Gonçalves Neto, coordenador de Inovação e Startups da FIESP, a ideia é trazer inovação aos segmentos envolvidos, com rapidez não só no desenvolvimento dos projetos, como também na sua apresentação aos examinadores.

Neto, da FIESP: equipes formadas por profissionais de diferentes áreas e trajetórias favorecem sucesso da iniciativa

“São de dois a cinco minutos para cada exposição”, afirma Neto, ao explicar a mecânica daquilo que chama de “maratona de hackers, porém do bem”, ressalvando que no Brasil o termo ainda é confundido com ckacker, esse sim responsável pelas temidas invasões aos sistemas.

Um dos segredos do método, no entender do coordenador, está na combinação de várias expertises, isto é, profissionais com diferentes origens, trajetórias e visões sobre cada desafio enfrentado.

Fórmulas desenvolvidas nessa mesma linha já produziram  cases de sucesso retumbantes, como o do Easy Táxi, primeiro aplicativo da modalidade implantado no Brasil, nascido de um evento muito parecido, o Startup Weekend, realizado durante um final de semana no Rio de Janeiro.

Comunicação

Prova incontestável de que a soma de diferentes habilidades realmente faz a diferença numa equipe de Hackathon, é o peso nessas competições para a forma com que são comunicadas à comissão julgadora os detalhes de cada ideia defendida.

Isso justifica a frequência com que Raquel Hoshino, proprietária de uma empresa paulistana da área de gestão de imagem e comunicação, há cerca de três anos cede parte do seu tempo à atividade de voluntária nessas maratonas.

Experiência na área da comunicação permite à mentora Raquel Hoshino testar eficácia das apresentações antes que cheguem aos jurados

O fato de quase sempre auxiliar grupos como o que teve pela frente na Oscar Rodrigues Alves, isto é, de áreas totalmente diferentes da sua, gera uma situação que a jornalista considera duplamente enriquecedora.

“Às vezes fica difícil para o mentor entender o que está acontecendo, qual é a melhora tecnológica desenvolvida ou simplesmente o que o grupo está propondo. Mas, ao mesmo tempo, o que parece ser ruim é muito bom, pois eles precisarão apresentar o trabalhos depois, e se eu não os estiver entendendo, boa parte da plateia pode também não entender”, observa Raquel.

Igualmente gratificante, segundo ela, é perceber até mesmo pessoas muito técnicas hoje mais abertas a se comunicar melhor, mostrar com clareza suas ideias, virtude que ela considera essencial para quem cria e traz à tona conceitos inovadores.

Outro Lado

Entre os demais participantes orientados por mentores como Raquel, a impressão de sair do Hackathon obtendo ganhos para as suas carreiras também era notória.

Foi o caso, por exemplo, de Edivaldo do Carmo Blanco, professor do curso técnico de refrigeração e climatização na própria Oscar Rodrigues Alves, Escola autora do desafio escolhido por seu grupo: o desenvolvimento de censores para monitorar o nível da água ao redor do prédio, e também com a finalidade de manter em dia a qualidade do ar interior de uma das salas da edificação, localizada no bairro paulistano do Ipiranga.

“Nós desenvolvemos um protótipo com três níveis de alarme para mostrar quando uma enchente, que é algo comum nessa região, estiver colocando em perigo os muitos carros de alunos que ficam estacionados nas extremidades do prédio”, explica Edivaldo. Com relação ao controle atmosférico, o sistema monitora temperatura, umidade, monóxido e dióxido de carbono.

Formado em Engenharia Elétrica e Automação Industrial, Márcio Watanabe trabalha no meio há cerca de 20 anos e resolveu se inscrever com base em informação recebida pela newsletter do SENAI.

Alunos de refrigeração se concluindo o trabalho
A dupla Edivaldo e Marcio dando os retoques finais no seu trabalho

Selecionado, envolveu-se no mesmo desafio, e acabou revisitando um tema com o qual havia lidado há dois anos na faculdade.

“Foi muito interessante perceber que a tecnologia atual permite desenvolver em dois dias o que antes levava no mínimo seis meses”, observa, referindo-se às novas possibilidades abertas pela internet das coisas (IoT).

Calendário

“Uma escola como esta tem tudo: laboratórios belíssimos, é muito bem equipada, tem um corpo docente extraordinário, uma organização espetacular. Então, por que não começar a fazer um movimento de transformação e ser um elemento catalisador na busca de uma nova cultura para o nosso setor”?

A indagação é do presidente do Sindratar-SP, Carlos Eduardo Trombini, ao justificar todo o seu empenho em ter feito da Oscar Rodrigues Alves a primeira Escola do SENAI a sediar uma Hackathon Maker, já que ele acredita piamente na capacidade de a cadeia produtiva da refrigeração e climatização produzir inovação e tecnologia.

Trombini, do Sindratar-SP: atuação decisiva para emplacar a novidade e torná-la permanente na programação anual da Escola

Entusiasta da indústria nacional, ele lamenta a migração em massa ocorrida para o exterior nos últimos anos, principalmente rumo ao continente asiático, “deixando à mingua a engenharia de um país como o nosso, onde há tantas faculdades e agências capazes de fomentar a pesquisa e o desenvolvimento”, constata.

Por tudo isso, ele considera inaceitável o Brasil ficar apenas com a tarefa da distribuição, possibilidade cada vez mais a provável, a julgar pelos números apresentados mês a mês pela Fiesp, segundo os quais as importações chegam a superar em até cinco vezes nossas vendas externas.

O pano de fundo para esse quadro, na análise de Trombini, é a enorme insegurança jurídica imposta ao empresariado brasileiro, juntamente com a situação ainda grave da economia. “A nossa crise está se estendendo mais do que deveria, por cerca de cinco anos de economia debilitada pela falta de investimentos na indústria e em negócios envolvendo áreas estratégicas para nós, como a construção civil, que nesse período perdeu algo em torno de 40% do seu mercado”, constata o líder setorial.

Em meio a um cenário de tamanha gravidade, Trombini enxerga com importância redobrada iniciativas como o Hackathon, capazes de criar novas oportunidades para as startups e a intelectualidade existente por trás delas. “Quem sabe algumas não conseguem vender seu trabalho, sua empresa, para investidores aqui amanhã?”, torcia o histórico líder do HVAC-R, na véspera da divulgação dos resultados da maratona de inovação pioneira, realizada na Oscar Rodrigues Alves, uma atividade que ele afirma já estar incorporada ao calendário anual da Escola.