Rosana Machado Paixão: mulher, mãe e profissional competente
Hoje ela é reconhecida como uma das mulheres influenciadoras do setor de HVAC-R (Aquecimento, Ventilação, Ar Condicionado e Refrigeração), por sua participação ativa nas ações que abriram caminhos para a atuação feminina no mercado. Em 2018, recebeu o prêmio “Agora é que são Elas”, participou do 1º Encontro Nacional Mulheres no AVACR – Febrava 2019, esteve à frente do primeiro treinamento dedicado às mulheres, e presente em inúmeros outros, realizados por grandes fabricantes e distribuidores para o público feminino.
Dotada de uma história incrível, Rosana Machado Paixão, 49 anos, é engenheira eletricista em segurança do trabalho, tecnóloga em automação industrial, e está à frente, como diretora da Elistec Elétrica, empresa que atua há 22 anos no mercado. Começou no setor elétrico como técnica na área de eletrotécnica, e já tem planos para começar uma pós-graduação na área de refrigeração.
“Minha história profissional ao longo desses anos começou em uma empresa, na qual eu trabalhava na área administrativa. Casei muito nova e aos 21 anos tive minha primeira filha, a Natália. Após o primeiro aniversário da Natália, meu marido teve um câncer agressivo no cérebro, e a partir daí, precisei sair da empresa para cuidar dele. Passamos muitas dificuldades neste tempo, inclusive financeiras. Com a doença do meu marido avançando, tivemos que deixar a casa que morávamos, em virtude do aluguel, e nos mudamos para os fundos da casa da minha mãe, que na época, não tinha nada. As dificuldades financeiras aumentaram e pela minha persistência e acreditando que Deus nunca iria me desamparar, consegui um emprego a noite como entregadora de jornais, pois durante o dia, me dedicava aos cuidados com meu marido. O turno começava às 22h00 e se estendia madrugada adentro. Eram 320 homens e somente eu de mulher. Isso foi o meu socorro para continuar mantendo minha casa e suprindo minha família. Muitas coisas aconteceram nesta fase da minha vida, inúmeras dificuldades, enfrentei todo tipo de perigo quando se trabalha a noite, mas Deus sempre esteve me orientando, me protegendo e me dando forças para seguir em frente! Por cinco anos estive nessa situação e, após o falecimento do meu marido, com uma filha de 4 anos, sempre tive fé que Deus iria me tirar da situação em que me encontrava. Com muitas dívidas e uma filha pequena, consegui aos poucos, regularizar a situação de um terreno que tinha, no qual tempos depois, construí a casa que moro hoje, e fui refazendo a minha vida”, conta Rosana.
Ela lembra que quando era pequena, gostava muito de mexer nas ferramentas do pai, inventando coisas com placas internas de rádio, desmontando máquinas, etc.
“Sempre tive esse dom e muita facilidade com placas, circuitos, desmontar máquinas quebradas, e reconstruir outras coisas a partir das peças, mas, por ser mulher, tive pouco apoio do meu pai para fazer um curso técnico, além de me casar muito cedo. Já viúva, decidi voltar a estudar e, em 1999, conclui o segundo grau. Profissionalmente, ganhei um distrito para a entrega de jornais e aos poucos, fui me reerguendo, entre lágrimas e pequenas vitórias diárias. Minha inserção na área elétrica se iniciou durante a construção da minha casa, que eu mesma estava construindo. Quando chegou na parte elétrica, um colega que trabalhava comigo na entrega de jornais, era eletricista e se prontificou a me ajudar. Me apresentou uma marreta e uma talhadeira e foi me ensinado como quebrar as paredes e passar a fiação elétrica. Foi um presente, pois eu adorava isso e nunca tinha tido esse incentivo e abertura. Assim, me apaixonei pela elétrica. A partir daí, comecei a me dedicar aos cursos profissionalizantes voltados para essa área. O primeiro curso, que fiz foi no SENAI Pirituba, de eletricista instalador. Conclui o curso e realizando trabalhos que surgiam. Nesta época, eu já estava viúva há dois anos e me apaixonando pela elétrica e pelo eletricista! Que hoje é meu atual marido, o Elias, e deste relacionamento, temos o Natan, com 10 anos, e um futuro promissor neste segmento. Juntos, eu e meu marido, começamos a pegar algumas obras, mas eu queria algo mais, que me propiciasse autonomia, também, para trabalhar com projetos, e não somente com instalação. Consegui passar na ETEC e durante dois anos fiz o curso de eletrotécnica, me formando em 2002. Nesta mesma época, tive acesso a uma vaga de estagiária na CETEP para uma das subestações da Usina de Traição, em São Paulo (SP). Quando cheguei, me deparei com 20 homens tentando uma vaga, e eu, a única mulher! Passei nos testes e entrei na CETEP – Casa Verde para mexer com cabos subterrâneos. Entravámos nas galerias para fazer a manutenção nos cabos, porém, como eu era estagiária, os acessos eram limitados e, na prática, não tinha muito de elétrica. Quando estava para finalizar meu estágio, conversei com o gerente e pedi a ele uma oportunidade para mudar para o setor de proteção, onde teria acesso a área de automação. Em princípio, fui questionada por ser mulher, me informaram que naquele setor não havia banheiro feminino, vestiário, etc. Enfim, depois de muitos contras, consegui a efetivação e fui trabalhar em campo, mexendo com instalações de 88, 138 e 345 mil W de potência. Com a privatização da CETEP, em 2008, sai da empresa, me tornei especialista na área de média e alta tensão em cabines primárias, me dedicando à Elistec Elétrica. Neste mesmo ano, recebi o convite do SENAI – Vila Leopoldina, para dar aulas de elétrica para profissionais de grandes empresas, como a Siemens, Voith, entre outras. Fiquei por 10 anos no SENAI, e em 2018, com o aumento de projetos pela minha empresa, me desliguei da entidade. Nesses 10 anos, fiz diversos cursos, me graduei em engenharia elétrica, e conquistei autonomia para assinar e realizar projetos”, relata.
Conhecimento e mão na massa
Sempre em busca de informação e conteúdo, Rosana teve contato com o mercado de refrigeração e ar condicionado através de um treinamento de refrigeração aplicada. Neste treinamento, ela conheceu Amaral Gurgel, considerado hoje, um irmão para ela.
- Revista do Frio promove evento itinerante para instaladores de ar-condicionado
- Dannenge patrocina 9º QAI – Seminário Internacional de Qualidade do Ar de Interiores
“A partir daí, comecei a trabalhar junto com o Gurgel na montagem e instalação de partes elétricas nos racks de refrigeração, montagem de quadros elétricos, e fui me envolvendo nesta área. Há oito anos fazemos projetos, integrando a elétrica à refrigeração comercial, em vários lugares espalhados pelo Brasil. Ao longo desses anos, acredito que o setor de HVAC-R, vem se conscientizando sobre importância da parte elétrica, através do trabalho que temos feito por meio de treinamentos, palestras, seminários e, até mesmo pelos grupos de whatsapp e mídias sociais, chamando a atenção para as orientações sobre sobrecargas nos sistemas. Temos muito a fazer, acidentes ainda acontecem! Além da segurança, ainda tem a parte financeira, onde muitas instalações têm altos custos de energia”.
O envolvimento com as “meninas do HVAC-R”, aconteceu através do Facebook, onde conheceu Carmosinda Santos.
“Curti uma postagem no Facebook e foi assim que conheci a Carmosinda. Nesta época, o grupo era composto por 10 mulheres e ela me adicionou. Criamos uma amizade muito grande entre nós, além do mais, como a minha área é muito masculina, me senti à vontade para trocar informações, principalmente, por se tratar de mulheres que entendem a linguagem técnica. Nos tornamos amigas e marcamos o primeiro encontro no ‘Agora é que São Elas’, realizado em dezembro de 2018, na Fiesp. Na ocasião, nos conhecemos pessoalmente e fomos premiadas pela atuação feminina no HVAC-R. Hoje, estamos juntas em treinamentos, seminários e para o que der e vier. Das diversas ações, promovemos um treinamento dedicado às mulheres na Poloar, se não me engano, o primeiro, com a participação de fabricantes e profissionais do setor. Neste encontro, realizado em março de 2019, tive a oportunidade de ministrar palestra sobre proteção elétrica e dimensionamento, e sou grata por fazer parte deste público feminino que tanto me apoia. Vários outros encontros aconteceram, ampliando a atuação da mulher neste setor, qualificando e capacitando centenas delas. É muito importante esse incentivo e divulgação, principalmente, porque ainda temos uma cultura machista, não só no setor de HVAC-R, mas em tantos outros. Temos muito trabalho a fazer, mas o reconhecimento, com certeza é muito válido. Viemos para somar, e não dividir forças”.
Sobre a família, Rosana só tem a agradecer: “Conto com minha família para tudo! Profissionalmente, temos a Natalia à frente da administração da empresa, e o Natan, que com apenas 10 anos, nos acompanha em algumas viagens e já coloca a mão na massa em obras que realizamos, com as devidas proteções, equipamentos de segurança do trabalho e sob a nossa supervisão! Ao longo desses anos, fui integrando muita gente, que considero parte da minha família, como o pessoal da Congregação Cristã, onde ministro treinamentos na área de segurança e elétrica como voluntária, certificando profissionais pela Elistec Elétrica; as meninas dos grupos dedicados ao HVAC-R; e muitos profissionais de empresas que me abriram portas para todas essas conquistas. Enfim, só tenho a agradecer por todas as bênçãos de Deus recebidas e as próximas que virão”, conclui Rosana.