Mais sol e gás na construção civil
Embora a utilização conjugada de sistemas de aquecimento solar e a gás ainda esteja aquém do potencial de consumo do mercado interno, os principais players do HVAC-R brasileiro apostam que esse cenário tem grandes chances de começar a mudar ainda este ano, mesmo com o País em recessão econômica.
Fabricantes, distribuidores e varejistas apontam a falta de mais incentivos fiscais e desonerações tributárias como as grandes vilãs que conspiram contra a expansão das vendas de equipamentos para construtoras e consumidores finais, mas esperam que haja mudanças positivas em breve.
De forma geral o mercado está evoluindo, graças aos esforços desses empreendedores e das entidades da cadeia produtiva do setor que conseguiram, inclusive, tornar imprescindível a etiquetagem de edifícios e equipamentos.
E a alta de mais de 50% no preço das contas de luz em 2015 tem imprimido uma mudança cada vez mais veloz na decisão de trocar a fonte de alimentação dos chuveiros. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal ligada ao Ministério de Minas e Energia, 88% das residências tinham o chuveiro elétrico como fonte de aquecimento de água em 2013, mas esse número vem caindo.
“O Brasil possui enorme potencial em comparação a outros países. Devido a uma política dos anos 1970 – de estímulo ao uso da energia elétrica, que era então abundante e barata –, o País se tornou a pátria dos chuveiros elétricos. Quando olhamos o cenário mundial, o uso principal do gás liquefeito de petróleo (GLP) é para o aquecimento de água. Traduzindo em números, em torno de 90% das residências brasileiras poderiam ser convertidas para esse tipo de aquecimento”, argumenta o presidente Sindigás (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de GLP), Sergio Bandeira de Mello.
De acordo com um estudo Abrinstal (Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência das Instalações), a instalação de um sistema de aquecimento de água a GLP pode reduzir em até 55,3% o consumo de energia elétrica.
Este cálculo pode ser comprovado em Niterói (RJ), cidade com o primeiro edifício com sistema GLP a receber a etiqueta “A” em eficiência energética no PBE Edifica, coordenado pelo Inmetro e pela Eletrobras.
Com 50 unidades, o empreendimento Essence recebeu etiquetagem, atendendo aos critérios da regulamentação vigente. Os imóveis terão água aquecida a gás nas duchas para banho e nas torneiras da cozinha e dos banheiros.
“Edificações novas que têm classificação A ou B no PBE consomem de 30% a 50% menos energia. Em Portugal, por exemplo, não é possível vender imóveis que não sejam etiquetados”, explica a consultora Monica Welker, que orientou a construtora no processo de instalação.
A Supergasbras, parceira na viabilização do projeto, foi responsável por estruturar em conjunto com a Construtora Fernandes Maciel, a solução energética do prédio com fornecimento de tanques de GLP, monitorados e abastecidos pela empresa, além de aquecedores de água e medidores individualizados por apartamento.
“A utilização do GLP no aquecimento de água rende um ganho econômico direto além de um ganho adicional na alíquota de conta de energia, pois se o cliente reduz seu consumo de energia elétrica, gastando menos de 300 kWh no mês, paga menos 11% de ICMS”, frisa Etienne Salles, gerente de soluções em energia da distribuidora, sediada em Betim (MG).
Vantagens do aquecimento solar
“A tecnologia do aquecimento solar está cada vez mais acessível”, afirma o engenheiro mecatrônico Fabiano Lara de Paula, gerente de produtos e responsável pela produção e desenvolvimento de novos produtos da Enalter, fabricante de sistemas de aquecimento solar para banho, piscina e parques industriais, instalada em Nova Lima (MG).
O gestor explica que tem havido queda no tempo de espera para o retorno de investimento em aquecimento solar, mas não pelos motivos desejados pelo mercado. Aparentemente benéfico, diz ele, esse efeito na relação custo/benefício dos equipamentos é artificial, pois foi obtido graças aos sucessivos aumentos das tarifas de energia elétrica e não pelo barateamento dos produtos.
“Hoje o payback está chegando a um ano e oito meses, no caso das instalações para banho. Para piscina ficou até mais rápido, atingindo seis meses”, salienta Lara de Paula.
Para tentar atingir um nível de payback condizente com a demanda da construção civil e dos consumidores finais, a empresa mineira investiu em tecnologia e colocou no mercado um reservatório de água desenvolvido para facilitar a instalação e diminuir os custos de mão de obra.
“Com a inovação, o cliente não precisa mais gastar para montar uma estrutura metálica para levantar a caixa d’água até o nível do telhado, ele pode colocar o reservatório no mesmo nível da caixa já existente”, descreve o profissional.
Atualmente com 300 contratos de manutenção de sistemas de aquecimento em prédios, entre os quais os da rede hoteleira Accor, a Enalter conta também com a experiência de já ter realizado mais de dois mil projetos, inclusive no primeiro edifício com certificação Leed Platinum em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde montou um sistema de refrigeração por meio de energia solar, com o uso de chiller de absorção, em 2007.
Economia
Uma simulação do Dasol da Abrava (Departamento Nacional de Energia Solar Térmica da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento) levando em conta o uso do chuveiro elétrico por uma família de cinco pessoas, considerando de quatro a cinco banhos diários com cerca de oito minutos cada, resultou no consumo anual de 3.240 kWh.
Com o equipamento solar instalado, esse consumo cairia para 2.400 kWh, o que representa uma economia de 840 kWh ao ano. Essa economia, em reais, pode chegar a R$ 1.100,00 por ano, ou ser ainda maior, dependendo dos hábitos da família.
O preço aproximado desse sistema instalado citado no exemplo, com capacidade para 200 litros, é de R$ 2 mil. Diante da economia promovida por ano superior a R$ 1 mil, em aproximadamente dois anos o investimento no sistema de aquecimento solar estará totalmente pago.
“Muitas pessoas têm obtido empréstimos bancários para aquisição do sistema de aquecimento solar e conseguem pagar as parcelas do financiamento com o valor da economia obtida na conta. Vale ressaltar ainda que os sistemas de aquecimento solar têm uma vida útil mínima estimada de 20 anos”, observa o secretário executivo do Dasol, Marcelo Mesquita.
“Este preço inicial do equipamento, mais a instalação e a manutenção durante o tempo de vida útil do produto, garantem um custo cinco vezes menor que o da energia elétrica convencional”, completa.
Segundo o Dasol, a energia solar térmica tem custo de R$ 0,12 por kWh. Já o custo do KWh da energia elétrica varia entre R$ 0,60 e R$ 0,70, dependendo da alíquota do ICMS por variação de consumo praticado em cada estado.
Inovações
Otimismo é a palavra de ordem em muitos fabricantes, como na Bosch do Brasil, que vem verificando, ano a ano, o aumento da penetração de aquecimento solar e a gás nas novas construções, ganhando o espaço dos tradicionais chuveiros, especificamente por causa da elevação dos custos da eletricidade.
“Nos últimos anos, aumentou a demanda para a troca de sistemas convencionais de aquecimento por soluções mais eficientes, como o aquecimento solar e a gás, incluindo residências, clubes, academias e hotéis”, ilustra o vice-presidente de marketing e vendas da Bosch Termotecnologia, Rafael Campos.
Para o segmento residencial, a Bosch pretende incrementar as vendas de aquecedores mecânicos e eletrônicos, fabricados com novos modelos de aquecedores a gás de alta performance, todos com selo Conpet de Eficiência Energética, concedido pela Petrobras e pelo Inmetro.
Na linha de frente estão os aquecedores a gás lançados em 2015, com destaque para o GWH 320 DE, destinado a residências com uso de até duas duchas simultaneamente, dependendo da vazão. Com exaustão forçada, função inverno/verão com queimador bipartido, o aquecedor tem ainda regulagens de potência/vazão e display digital que exibe a temperatura da água.
Para uso profissional e aplicações mais vigorosas, a multinacional dispõe dos modelos GWH 525 CTDE e GWHO 525 CTE, desenvolvidos para integração com sistemas solar conjugado, trabalhando com temperaturas de entrada ou retorno de picos de até 80ºC, devido à robustez de seus componentes e eletrônica preparada para esses sistemas. Ambos os modelos permitem ajustes pontuais e precisos de temperatura entre 35ºC e 70ºC.
“O ano de 2016 será desafiador, devido ao número reduzido de novas obras a serem entregues em decorrência da desaceleração do número de projetos iniciados em 2014 e 2015. Notamos, inclusive, uma queda no número de entregas de conjuntos habitacionais da faixa I do Programa Minha Casa, Minha Vida, que têm sistemas de aquecimento solar. Apenas a partir do segundo semestre o volume de novas obras deve voltar a aumentar”, projeta Campos.
Ainda no segmento solar, o grupo Bosch ampliou sua linha de reservatórios térmicos, por meio da Heliotek, marca de aquecimento solar da companhia alemã. A linha MK Flex, de 400 litros a 600 litros de capacidade, facilita a instalação de sistemas solares em residências com baixa pressão de água – situação bem comum no Brasil – e com dificuldades para a disposição de um sistema de termossifão, isto é, quando não há altura suficiente para instalação de caixa d’água sobre o reservatório.
O investimento em tecnologia é outro caminho para tornar o payback menor, especialmente se houver o aumento do tempo de vida útil do equipamento. A tubulação de cobre na chapa única de alumínio dos coletores solares da marca, por exemplo, recebe solda por meio de uma máquina importada da Alemanha que realiza esse processo usando ultrassom.
“Este tipo de aplicação de solda garante que a transferência de calor entre os metais funcione por muito mais tempo, e a eficiência do coletor irá durar toda a vida útil do aparelho, evitando que o consumidor use mais a resistência, elevando a conta de energia”, explica.
O executivo também destaca os sensores de temperatura na entrada e na saída de água dos aquecedores a gás da linha eletrônica. Os dispositivos medem a diferença de temperatura e modulam automaticamente a potência do aparelho para a temperatura selecionada.
“A temperatura de saída do banho se mantém estável, mesmo se a temperatura de entrada oscilar, o que é muito comum. O usuário não sentirá a temperatura do banho esquentando ou esfriando, e isto torna o aparelho também mais eficiente, pois utiliza apenas a potência necessária, não sendo fixa ou em estágios, como muitos aparelhos do mercado”, salienta.
A empresa também aposta no segmento de retrofit, projetando um crescimento próximo de 10% neste ano.
Evolução
Mesmo com o cenário recessivo, a expectativa da paulistana Lorenzetti é crescer em torno de 5%, até o final de 2016, em volume de vendas de aquecedores de água a gás ante 2015. Para chegar a este patamar, aposta em três sistemas para aquecedores de água a gás, detentores da classificação “A” no Programa Brasileiro de Etiquetagem.
O primeiro, de exaustão natural, possui defletor interno projetado para exaustão dos gases queimados por meio do arraste natural. O segundo, baseado em exaustão forçada, promove a dissipação dos gases queimados por uma ventoinha interna, tornando o produto mais seguro, pois em caso de correntes de vento evita o retorno dos gases de combustão para o ambiente.
Por último, a companhia oferece o aquecedor de fluxo balanceado, que pode ser instalado em ambientes fechados, inclusive no banheiro, de acordo com a Norma NBR 13103. O equipamento possui sistema capaz de puxar o ar do ambiente externo para alimentação da chama e expelir os gases queimados para fora do ambiente.
“O mercado de aquecedores de água a gás vem apresentando crescimento nos últimos anos, cenário impulsionado principalmente pela expansão das distribuidoras de gás no Brasil, além do crescimento imobiliário, com médias e grandes construtoras projetando novos empreendimentos para aquecedores a gás”, ressalta o gerente de marketing da Lorenzetti, Alexandre Tambasco.
Um exemplo da evolução da distribuição do gás no País vem da Comgás (Companhia de Gás de São Paul), uma das maiores empresas do ramo, que encerrou 2015 com mais de 113 mil novos clientes, sendo 112 mil residenciais e 1.128 comerciais. O gás chega a cerca de 1,5 milhão de clientes em 80 municípios do estado de São Paulo, por meio de 13 mil quilômetros de rede de distribuição.
Segundo o executivo da Lorenzetti, parte desse momento positivo, em algumas frentes, se dá pela forte atuação e constante evolução dos lojistas que, “além de venderem, divulgam e difundem a informação sobre a aquisição de equipamentos, pois se trata de uma venda técnica e isso pode tornar a comercialização mais complicada se comparada ao sistema elétrico.”
Essa mesma linha estratégica é adotada pela Komeco, sediada em Palhoça (SC) e com unidades fabris no Polo Industrial de Manaus (AM), onde fabrica aparelhos de ar-condicionado, e em São José (SC), local dedicado aos aquecedores solares.
A empresa colocou no mercado três tipos de coletores solares, sendo dois produzidos no Brasil – planos, para geração de água quente para banho, e em polímero, voltado para piscina; e um importado na China, com tubos a vácuo para geração de água quente para banho. Há também os reservatórios térmicos solares de alta e baixa pressão para armazenamento de água quente para banho, fabricados no país.
“A companhia fabrica coletores solares resistentes ao congelamento, com aplicação indicada para regiões com incidência de geadas, e coletores solares de tubos a vácuo que geram água quente em temperaturas mais elevadas”, afirma o engenheiro mecânico Maykel Motta, responsável pela linha de aquecimento solar da empresa.
Crescimento
Para o consultor técnico Fabio Tedesco, responsável pela engenharia de aplicação da gaúcha Full Gauge Controls, o apoio elétrico ou a gás é muito importante em algumas instalações de sistemas de aquecimento solar, sobretudo em regiões serranas e no Sul do País, onde o frio pode congelar a água nesses equipamentos. “É uma questão de segurança”, reforça.
Independentemente de crise, a expectativa da companhia é elevar em 16% as vendas para setor de aquecimento solar, especialmente com o software Sitrad, usado para gerenciamento remoto, via Internet, de todas as instalações de sistemas solares conectadas a ele.
Atualmente, a Full Gauge desenvolve soluções completas para controle desses sistemas, com destaque para os quatro modelos de controladores da linha Microsol Advanced, que são caracterizados pelo design diferenciado para uso em ambientes residenciais, pela facilidade de operação com teclas de acesso facilitado aos principais recursos dos controladores e pela utilização do display customizado.
“A tecnologia de display empregada nesses dispositivos permite apresentar, de forma simples e completa, as informações do sistema de aquecimento solar, tais como estado das saídas, modo de operação da bomba, posição e temperatura dos sensores. Hoje, o usuário final não acompanha apenas a temperatura, e sim o processo todo animado na tela do controlador”, ressalta.
O crescimento do volume de negócios em 2016 também faz parte dos planos da Heliodin do Brasil, sediada em Santana do Paranaíba (SP). “Esperamos expansão de 25% nas vendas, pois nossos esforços estão concentrados em mercados onde a qualidade e a eficiência dos produtos são atributos decisivos”, argumenta o diretor comercial Renato Mattos.
A Heliodin fornece coletores solares com vidro temperado ou cristal e aletas soldadas por ultrassom ou com perfil ômega, além de reservatórios em aço inoxidável 304 ou 316 e aço-carbono com pintura epóxi ou aço-carbono com cobre.
Fabricante de coletores de energia solar para aquecimento de água para banho, piscinas e usos industriais, a Astrosol aposta no fornecimento de sistemas híbridos para vestiários de clubes e academias.
“Com o sol e o gás, a redução do consumo de energia elétrica pode chegar até 80%, dependendo da região do País em que o sistema está instalado. Algumas indústrias, redes hoteleiras e hospitais vêm preferindo investir em energia solar para o aquecimento de água”, destaca o diretor-presidente da empresa, Newton Ferreira.
Recentemente, a Astrosol participou de obras de destaque, como a instalação de aquecedores a gás no Centro Tecnológico do Fundão, no Rio; de um sistema solar com apoio do gás na unidade fabril da Sadia, em Jundiaí (SP), e em oito torres do Condomínio Jardins de Provence, da Construtora Esse/Edalco, em São Paulo; além de 600 metros quadrados de coletores solares para pré-aquecimento de caldeira, no Hospital Sara Kubistchek, no Rio.
“Atualmente, estamos montando um sistema solar e a gás no hotel Hyatt Place, em São José do Rio Preto, no interior paulista, e um sistema a gás no Hospital dos Estivadores, em Santos (SP)”, informa.
Mais controle
Fabricante de controladores de temperatura para sistemas de aquecimento solar residenciais e de piscinas, a Ageon também acredita na continuidade da expansão do mercado de aquecimento solar.
“Nos primeiros meses deste ano, percebemos uma maior movimentação no mercado, apresentando uma significativa melhora comparando ao mesmo período de 2015. É possível notar em nossos clientes uma mudança de comportamento. Eles estão saindo de um estado de apatia para o enfrentamento da crise”, constata a gerente de vendas e marketing da empresa, Luciana Catão.
Recentemente, a companhia lançou a linha de termostatos SolarTouch. Além do display de LCD e da interface touchscreen que facilitam a instalação, esses controladores ainda possuem diversas funções de proteção e modelos com até três apoios simultâneos (bomba de calor, gás e elétrico).
“Toda a tecnologia presente neles garante a máxima eficiência no controle de temperatura, proporcionando aos usuários todos os benefícios do aquecimento solar, como o conforto e a economia de energia”, arremata.
Por dentro da tecnologia
Saiba quais são os sistemas de aquecimento de água a gás disponíveis no mercado brasileiro:
– Exaustão natural – Os aquecedores a gás dessa linha possuem defletor interno projetado para exaustão dos gases queimados por meio do arraste natural.
– Exaustão forçada – Nessa linha de aquecedores, a exaustão dos gases queimados é realizada por uma ventoinha interna, tornando o produto mais seguro, pois, em caso de correntes de vento, evita o retorno dos gases de combustão para o ambiente.
– Fluxo balanceado – Os produtos podem ser instalados em ambientes fechados, como o próprio banheiro, de acordo com a Norma NBR 13103, uma vez que possuem sistema capaz de puxar o ar do ambiente externo para alimentação da chama e expelir os gases queimados para fora do ambiente.
Energia renovável em ascensão
De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), o Brasil ocupa a quinta posição no ranking dos países com a maior área instalada de coletores solares para aquecimento de água.
Informações recentes do Dasol revelam que, atualmente, são mais de 12 milhões de metros quadrados instalados nos telhados de residências, conjuntos habitacionais, hotéis, clubes e indústrias do País.
Para disseminar os sistemas do gênero, a Abrava tem apresentado ao governo federal dados que mostram que o investimento em energia solar térmica reduz a necessidade de gastos públicos para construção de grandes estruturas de geração de eletricidade.
Outra grande vantagem do equipamento é a sua instalação simples, que não demanda modificações estruturais nos imóveis. “Primeiramente, é necessário que haja área disponível e apropriada (telhado ou laje) com uma boa incidência de raios de sol por várias horas do dia, onde será feita a instalação dos coletores para o aproveitamento máximo da luz solar”, explica Marcelo Mesquita, do Dasol.
“O segundo passo é identificar os padrões de consumo de água quente da família: quantas pessoas moram na casa, quantos banhos tomam por dia, em quais pontos a água quente será instalada e em quais horários se dará sua utilização, tudo isso para saber o volume total de água quente que será consumido”, acrescenta.
Com essas informações, será possível dimensionar uma proposta de projeto, que deverá trazer informações técnicas de quantas placas coletoras são necessárias e a produção anual de energia do sistema, o volume do reservatório térmico solar capaz de armazenar água quente para atender as necessidades da família, tudo isso considerando também informações da radiação solar e das condições climáticas ao longo do ano na cidade ou região da instalação.
Um item importante é que o sistema de aquecimento solar deve sempre ser dimensionado considerando um dispositivo de aquecimento auxiliar (back-up a gás ou elétrico), para eventuais períodos prolongados sem insolação que, em geral no Brasil, são mínimos, e variam de acordo com cada região. “Para evitar surpresas, recomendamos que o consumidor conte sempre com uma empresa ou profissional capacitado, participante do Programa Qualisol Brasil, o que é uma garantia de bons serviços”, frisa.
A partir do dimensionamento e projeto, a instalação consiste em fixação do reservatório térmico e do coletor solar no telhado ou laje, com interligações adequadas de acordo com o especificado no projeto. “Para que a água quente chegue aos ambientes planejados, será então necessária a interligação do sistema de aquecimento solar com à tubulação de água quente, muitas vezes já prevista em algumas moradias”, informa.
“Caso a moradia não tenha tubulação específica para água quente, isso não será problema, pois, em muitos casos, uma simples adaptação na rede hidráulica atenderá às necessidades do imóvel”, completa.
No caso dos imóveis que já possuem chuveiro elétrico, há possibilidade de mantê-lo na instalação como sistema backup (na posição desligado), para dias sem insolação suficiente.
Certificação
Desde setembro de 2015, está em implantação no setor as etapas da certificação compulsória de equipamentos e, em breve, todos os produtos, coletores e reservatórios térmicos solares deverão trazer a etiqueta do Inmetro, o que é um importante item a ser observado pelo consumidor na hora da compra.
“Nesse processo de certificação compulsória, que impôs profundas alterações às empresas, fez-se necessário a criação do Portal CertificaSol (www.certificasol.com.br), que apresenta orientações aos fornecedores sobre a certificação compulsória dos equipamentos de aquecimento solar de água, facilitando a adequação dos produtos, contribuindo para fortalecer a cadeia produtiva e propiciando que mais empresas atendam às exigências de qualidade dos coletores solares e reservatórios térmicos comercializados no Brasil”, diz.
Um outro destaque no campo das ações institucionais é o Programa Qualisol Brasil, dedicado à qualificação de fornecedores de produtos e serviços para sistemas de aquecimento solar envolvendo empresas e profissionais que atuam na implantação e instalação de sistemas de aquecimento solar.
De acordo com o Dasol, seu principal o objetivo é fomentar compromissos técnicos de qualidade e promover capacitação para que seus afiliados possuam competências técnicas e habilidades necessárias para dimensionar, fornecer e implantar com qualidade e distinção sistemas de aquecimento solar, respeitando normas, recomendações de fábrica e padrões pré-estabelecidos para garantir desempenho, durabilidade e estética, fornecendo o Certificado de Conformidade Qualisol Brasil.
“Outro destaque é o programa Um Solar em Cada Casa, que prevê a ampliação do uso de recursos energéticos sustentáveis por meio da energia solar térmica para aquecimento de água em residências de todo o país”, acrescenta Mesquita.
A proposta contempla a inclusão de cinco ações de grande impacto: aquisições de aquecedores solares com recursos do FGTS; inserção no Programa de Eficiência Energética; ampliação do uso aquecedores no Programa Minha Casa Minha Vida; obrigatoriedade de uso nas novas construções residenciais que se beneficiem de recursos públicos e uma campanha de incentivo ao uso da tecnologia solar térmica.
Em quatro anos, as ações propostas pelo programa Um Solar em Cada Casa totalizam oito milhões de aquecedores solares em todo o Brasil, beneficiando 32 milhões de pessoas.