“Inverter”, o nome do jogo no mundo dos splits
Dez entre nove fabricantes ou distribuidores de ar condicionado estabelecidos no País sequer pestanejam na hora de apontar que tipo de produto tem caído mais facilmente nas graças do brasileiro.
Segundo essas empresas, a paixão pelos inverters é indiscutível, e está sendo tão rápida e avassaladora quanto o próprio sucesso, iniciado há cerca de duas décadas, pelos candidatos naturais a gradativamente substituir os aparelhos de janela, que durante muito tempo reinaram absolutos por aqui.
Motivos para isto não faltam, de acordo com renomadas indústrias e revendas da área. A começar pelo fato de a tecnologia empregada nestes equipamentos interromper o funcionamento do compressor sempre que a temperatura desejada no ambiente é atingida, propriedade responsável por uma economia energética que alguns garantem chegar a 50%, comparativamente às máquinas convencionais, de funcionamento ininterrupto.
Operação mais silenciosa é outra característica muito apreciada pela clientela, a exemplo de um aspecto relevante para os profissionais da área que se preocupam com o exercício sustentável de sua atividade: os inverters funcionam com R410a, fluido refrigerante inofensivo à camada de ozônio e responsável por um dos menores índices de contribuição para o aumento do efeito estufa, o chamando GWP – Global Warming Potential.
Com tantos pontos favoráveis , chega a ser fácil compreender porque a indústria e o comércio do HVAC se dedicam cada vez mais espaço em seus portfólios e estoques a essa modalidade de split que, não por acaso, também é o grande protagonista desta reportagem especial da Revista do Frio, novamente retratando o segmento da climatização que mais tem crescido entre nós.
Fazendo a diferença
Mas como se destacar atuando com um produto que se tornou praticamente obrigatório nas linhas de produção e show rooms Brasil afora?
Responder a esta pergunta tem sido quase uma obsessão nas áreas de pesquisa e desenvolvimento dos grandes players do setor, de onde têm saído verdadeiras pérolas da inventividade.
A Midea Carrier, por exemplo, na qualidade de introdutora dessa tecnologia no País na década passada,não faz por menos e anuncia o Vita Inverter, produto com o qual afirma buscar a popularização definitiva da modalidade, ao combinar recursos de ponta a um custo igualmente convidativo.
Seus atrativos especiais incluem o “Ar+Puro”, sistema de filtragem com cinco níveis de tratamento do ar; controle remoto iluminado para facilitar o manuseio durante a noite; e a função Favorito, que permite ao usuário programar a configuração preferida apertando apenas um botão.
A Samsung também encabeça sua lista de inovações com a qualidade do ar respirado nos ambientes, por meio de sua exclusiva tecnologia Virus Doctor, capaz de eliminar até 99,9% das bactérias, fungos, ácaros e vírus, incluindo o Influenza A (responsável pela transmissão da gripe suína) e Influenza B (agente causador da gripe comum).
O Split Inverter Techno, da Electrolux, segue a mesma tendência. Lançado em março último, ele apresenta um sistema de tripla filtragem que a fabricante assegura ser um Ultra Filter capaz de eliminar praticamente todas as bactérias em suspensão, enquanto um elemento de carvão ativado reduz odores e um terceiro, de nylon, retém as partículas de poeira.
No caso da LG, as últimas novidades do gênero atendem pelos nomes de Libero-E e Libero-Artcool, ambos igualmente ciosos em garantir ar puro, por meio de filtro lavável com malha extremamente fina. Mas a indústria de origem coreana também frisa a emissão de apenas 19 decibéis na velocidade mais baixa, nível de ruído quase imperceptível.
A Komeco também fez questão de colocar o inverter em seu catálogo a partir deste ano, de olho em propriedades desta família de condicionadores que incluem uma eficiência no resfriamento que impede a redução da capacidade do aparelho até mesmo quando há sobrecarga na operação.
O Hi-Wal Eco-Logic, por sua vez, é o modelo lançado em 2010 pela Bosch que acrescentou aos atributos de filtragem, sustentabilidade e eficiência energética típicos dos inverters um mecanismo chamado Auto Clean. Ele limpa o sistema interno por meio de um processo diferenciado de evaporação.
Mercado em ascensão
Embora salte aos olhos a prevalência dos inverters, o mercado de splits como um todo não tem do que reclamar no Brasil.
Profissionais do setor como o gerente comercial da Komeco recorrem a números reveladores para justificar o otimismo com que têm olhado para este segmento.
“O Brasil está em terceiro lugar no ranking mundial de aparelhos de janela no segmento de ar condicionado, atrás apenas dos Estados Unidos e índia; e em nono lugar quando se fala em splits. Há dez anos, tínhamos uma base instalada de 94% de aparelhos de janela e 6% de splits, numa similaridade com o modelo americano”, pondera Joycenir Sarmento de Souza.
Segundo ele, no entanto, em 2007 esse quadro se inverteu, com 60% do mercado representado pelos splits e 40% por aparelhos de janela, “o que comprova que hoje o mercado brasileiro está ficando similar ao japonês”, comemora.
O executivo da indústria catarinense lembra ainda que, nos últimos dez anos, os aparelhos de janela cresceram 40% e os splits 1.621%, em termos de toneladas de refrigeração instaladas no País.
Mas todo esse vento a favor não é sinônimo de calmaria total na área, conforme opina o gerente de produto da área de ar condicionado da LG Electronics no Brasil, Mauro Apor. “Trata-se de um nicho de mercado muito específico, uma vez que pequenos impactos sazonais e econômicos influenciam diretamente na demanda”, analisa o executivo.
Mesmo assim, ele considera este mercado bastante promissor, com crescimento sustentado ano a ano. “Por este motivo, nota-se um forte investimento dos players do segmento na melhora da produção e no desenvolvimento de novas tecnologias, com o objetivo de melhor abastecer o mercado nacional, tanto em quantidade quanto em qualidade”, analisa Apor.
A notável ascensão das classes C e D também é um fenômeno que vale a pena ser considerado, na visão do gerente de vendas da Bosch, Fabio Gonçalves Raimundo.
Nas estimativas de sua empresa, hoje o mercado residencial consome cerca de 3 milhões de peças/ano, num cenário onde as diferenças bem-vindas são as climáticas, não as sociais.
“Na região sul, no inverno, não vendemos tanto como no verão, porém é uma época em que estamos vendendo cada vez mais equipamentos “quente e frio. Já no norte de São Paulo e nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, as vendas acontecem praticamente o ano todo”, justifica o engenheiro mecânico.
A recente aquisição da Heliotek dá à Bosch um motivo extra para enxergar a sazonalidade de forma tranquila, acrescentando ao seu portfólio uma série de novos produtos no segmento de aquecimento de água.
Há também no mercado quem aponte no crescimento da construção civil e na proximidade dos grandes eventos esportivos em solo brasileiro motivos igualmente suficientes para esfregar as mãos.
É o caso de Carlos Guimarães, atual gerente de Produto Aircare Watercare da Electrolux. “O mercado de condicionadores de ar no Brasil tem apresentado excelente performance nos últimos anos, impulsionado pela oferta de produtos com preços mais acessíveis e aumento da oferta de crédito, estimulada pelo governo brasileiro”, observa o profissional.
Até mesmo a natureza estaria colaborando nos planos otimistas de sua empresa já a partir deste segundo semestre, tendo em vista o anúncio feito em junho último pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), de que brevemente o fenômeno El Niño novamente estará entre nós.
Preocupações recorrentes
Por mais que os inversters estejam protagonizando mais um capítulo de sucesso na história dos splits no Brasil, alguns pontos merecem atenção especial dentro e fora do País.
Após um ano de vendas menores , por conta do verão ameno e da retração econômica, o gerente de produto na área de condicionadores de ar da Samsung considera preocupante o fato de os estoques terem aumentado praticamente na mesma proporção em que os preços caíram, levando empresas da área a rever suas estratégias, algumas delas até mesmo abandonando o mercado.
“Em algumas situações, o preço da instalação de um equipamento split era mais alto do que o próprio valor pago pelo produto no mercado”, exemplifica Alvaro Ruoso.
Soma-se a este quadro, segundo ele, o fato de ainda haver uma forte presença no País de produtos importados competindo de forma agressiva com os modelos locais, em meio a uma guerra de incentivos fiscais que beneficia os importadores em detrimento dos fabricantes aqui estabelecidos.
“A Samsung espera que o aumento do IPI para condicionadores de ar split ajude a aumentar a competitividade das empresas que investem e acreditam no Brasil”, defende o gerente.
No entanto, a exemplo de outros profissionais, ele acredita no potencial de crescimento do mercado brasileiro, na esteira da disponibilidade de crédito e na redução nas taxas de juros, com um viés positivo nas vendas previsto ainda para este segundo semestre.
Igualmente preocupado com a proliferação de marcas vindas de fora, muitas vezes com o preço inferior acompanhado de qualidade menor ainda, o diretor de marketing da Midea Carrier aposta na maturidade do consumidor local para atenuar tal ameaça, uma vez que o brasileiro vem aprendendo a dar prioridade para marcas e produtos confiáveis.
“Há poucos anos o ar condicionado era considerado produto de luxo e esta percepção está praticamente abandonada. Provas disso foram registradas durante os picos de calor no começo do ano, que levaram ao aumento na demanda a volumes inimagináveis há uma década”, acrescenta Henrique Mascarenhas.
Já para distribuidores tradicionais do mercado o perigo está aqui mesmo, mais precisamente na telinha do computador.
“As chamadas ponto com têm jogado para baixo o preço dos equipamentos, degradando muito o mercado do especializado, já que a venda do split de certa forma é técnica, e só o especializado é capaz de fazê-la”, sentencia Marcus Viana Devides, da Devides & Viana.
Com base nos seus 22 anos de experiência na área, o empresário de Salvador identifica no inverter um divisor de águas também neste momento.
“Essa linha é a bola da vez para o especializado, uma vez que ainda não está nas ponto com, no varejo e nem nos home centers, o que nos possibilita uma melhor tratativa com o consumidor para o qual o fator preço não é o preponderante, mas sim a parte técnica do equipamento”, acentua.
Visão semelhante é a do diretor comercial da paulistana FR Climatização, Rodrigo Men, para quem os magazines também entraram de cabeça na área, notadamente a partir do ano passado.
“Eles enxergaram um mercado em franco crescimento, gostaram da brincadeira e se tornaram, dos players atuais, os maiores vendedores de splits hi wall unitários com compressor fixo (não Inverter) e gás R22. Acredito que dentro de um ano já representarão 90 % das vendas desses tipos de splits”, prevê.
Um dos reflexos dessa realidade, na visão do executivo, é o preocupante aviltamento dos preços. “Hoje um split pode ser comprado por R$ 599,00 em 12 vezes e instalado por R$ 450,00, menos da metade do valor cobrado por uma empresa como a nossa para fazer essa instalação”, reclama.
Como consequência, as empresas realmente especializadas do ramo ou baixam suas margens drasticamente ou se especializam nos outros tipos de equipamento, com valor agregado e público seleto.
“A FR conseguiu prever essa mudança já em 2009, pois há muitos anos isso ocorre na Europa, por exemplo, onde cada magazine tem sua marca própria de Split Hi Wall unitário”.
Lá, porém, ele afirma haver uma grande diferença: o consumidor paga mais caro pela instalação do que pelo equipamento hi wall não inverter, sabendo que um trabalho bem feito nesta hora é extremamente importante no caso do split, no qual o circuito frigorífico faz parte do próprio equipamento.