Boas práticas reduzem riscos de acidentes na indústria
Durante muitos anos, o R-22 foi o principal fluido refrigerante utilizado em sistemas de ar condicionado, bombas de calor residenciais e comerciais, sistemas de refrigeração de supermercados, chillers instalados em prédios comerciais ou fábricas e equipamentos de refrigeração industrial.
Por conter cloro em sua composição, é uma substância nociva à camada de ozônio. A molécula deste hidrocloro-fluorcarbono (HCFC) ainda tem um potencial de aquecimento global (GWP, em inglês) 1.857 vezes maior que o do dióxido de carbono (CO2).
Em 2010, o R-22 foi banido dos novos equipamentos nos países desenvolvidos, onde até 2020 ele deverá ser eliminado totalmente. No caso do Brasil e de outros países em desenvolvimento, este prazo se estenderá até 2040.
Atualmente, o governo brasileiro vem diminuindo suas cotas de importação, o que tem tornado o fluido cada dia mais escasso no mercado.
Assim como no resto do mundo, por aqui ainda há um imenso parque instalado a ser convertido nos próximos anos para operar com novos fluidos refrigerantes alternativos de baixo ou nenhum impacto climático.
No País, onde a grande maioria da mão de obra do setor não possui qualificação adequada, os grandes desafios são promover essa transição tecnológica evitando vazamentos, aumento dos custos de manutenção e, principalmente, os acidentes.
Alguns fluidos tóxicos e inflamáveis utilizados nos primórdios da refrigeração por compressão mecânica, como os hidrocarbonetos (HCs) e o CO2, estão voltando ao mercado, uma vez que eles apresentam boa eficiência energética e baixo impacto ambiental.
“Mas a reintrodução dessas substâncias no setor exige maior atenção dos profissionais em relação às normas e aos procedimentos de segurança”, alerta o professor José de Jesus Amaral Marques, autor do livro Boas práticas no uso do cobre para refrigeração e climatização, lançado em maio pela Senai-SP Editora.
Segundo Amaral, a utilização de fluidos que trabalham com maior pressão no evaporador e condensador também exige o uso de tubos mais resistentes. “O cobre atende perfeitamente a essa demanda”, diz. “Este metal só não pode ser aplicado em instalações com amônia”, completa.
Além da toxicidade e da inflamabilidade dos gases refrigerantes, os circuitos eletromecânicos dos sistemas de climatização e refrigeração podem oferecer riscos relacionados a choque elétrico e arco elétrico, campo magnético, altas temperaturas e congelamento.
Normas técnicas e de segurança
De acordo com Amaral, as normas que classificam os fluidos refrigerantes quanto à sua toxicidade e inflamabilidade devem ser observadas rigorosamente para que sua manipulação seja feita de forma segura.
No Brasil, a NBR 16069, que trata da segurança em sistemas frigoríficos referenciando a Ashrae 34, menciona, por exemplo, a limitação da carga de fluidos inflamáveis em sistemas de ar condicionado e bomba de calor para conforto humano.
Segundo a norma, qualquer “sistema de refrigeração selado montado em fábrica com uma carga de fluido frigorífico inferior a 150 gramas de um refrigerante A2 ou A3 poderá ser instalado em um ambiente ocupado sem restrição, mesmo que não seja uma sala de máquinas especial.”
O texto do documento técnico também ressalta que “os fluidos frigoríficos dos grupos A2, A3, B1, B2 e B3 não devem ser utilizados em sistemas de alta probabilidade para conforto humano”, apresentando algumas exceções, como a área industrial, por exemplo.
“No caso dos fluidos refrigerantes A1, os profissionais do setor devem usar luvas, óculos e calçados de proteção, além de uma blusa de manga comprida e calça longa”, ressalta Amaral.
“Em se tratando de fluidos perigosos, classificados com B1, B2 ou B3, além de todos esses EPIs, o uso de uma máscara conforme a toxicidade do produto é imprescindível, assim como o jaleco antichamas, para os fluidos A2 e A3”, acrescenta.
A utilização da solda oxiacetilênica num circuito frigorífico deve ser feita com muito cuidado, prossegue Amaral, lembrando que esse não é um trabalho para “penduradores de ar”, turma composta por aventureiros de outras áreas que invadem o setor, como pedreiros e eletricistas, e se autodenominam “técnicos”.
No fim de 2016, uma série de incidentes durante manutenções de sistemas de ar condicionado, que resultou em queimaduras de trabalhadores, levou o órgão regulador de normas de segurança e saúde do estado australiano de Nova Gales do Sul (SafeWork NSW) a emitir um relatório de alerta a respeito do assunto.
Nos casos relatados, os refrigeristas estavam usando este tipo de solda para desmontar as conexões de cobre ao substituir o compressor. Apesar do uso do fluido não inflamável R-22, acredita-se que a pressão residual fez com que a mistura de refrigerante e óleo fosse liberada da junta do tubo, entrando em contato com a solda e iniciando os incêndios.
O alerta da SafeWork NSW adverte que, em casos assim, o fluido irá permanecer em solução com o óleo do compressor, e aquecer ou agitar o sistema faz com que o refrigerante, ao evaporar, eleve a pressão.
Segundo o relatório, os profissionais devem recolher o fluido frigorífico antes de realizar serviços nos sistemas de refrigeração e ar condicionado, assegurar que o local esteja bem ventilado e utilizar cortadores de tubos.
“A solda oxiacetilênica deve ser utilizada apenas sob condições estritamente controladas”, frisa Amaral.
Outro fator importante para o aumento da segurança no setor é o aprimoramento das Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho.
Dependendo da atividade que o profissional vá realizar, ele precisará seguir uma norma específica, como a NR-10 (Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade), NR-35 (Trabalho em Altura), NR-33 (Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados) ou NR-12 (Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos), dentre outras.
Por fim, as tecnologias para prevenir acidentes têm evoluído a passos largos no sentido de não apenas conferir segurança aos profissionais, mas também contribuir para o conforto no desempenho de seu trabalho.
É o caso, por exemplo, das máscaras de solda que escurecem automaticamente, dos óculos em policarbonato e das botas mais ergonômicas aos pés, dentre uma série de outros produtos com essa finalidade.
Para os trabalhos realizados em altura, os novos cintos também têm sido aprimorados, a fim de proporcionar um nível de segurança adequado com maior comodidade.