Conhecimento por todos os lados
E a escrita se repetiu este ano. Ao mesmo tempo em que os estandes da Feira fervilhavam, por conta dos muitos lançamentos e visitantes no São Paulo Expo, verdadeiros bolsões tecnológicos mesclavam a troca de conhecimentos à exposição de produtos e serviços.
Foi essa a missão mais uma vez muito bem cumprida pelas ilhas temáticas da Febrava – Feira Internacional de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação, Aquecimento e Tratamento do Ar e da Água -, que em número de cinco, bateram todos os recordes quantitativos e, principalmente, qualitativos, conforme são unânimes em destacar seus respectivos responsáveis.
No caso da Escola Senai Oscar Rodrigues Alves, um motivo extra para comemoração foi o sucesso do primeiro Hackathon realizado durante a feira, em conjunto com a Fiesp – em sua 10ª iniciativa do gênero –, tendo patrocínio da Reed Exhibitions Alcântara Machado e apoio das empresas VL Salter e Trox, que apresentaram os desafios aos participantes.
A equipe vencedora foi a “Smart Filters” e sagrou-se campeã por desenvolver um software para a medição da qualidade de filtros de ar-condicionado, proposta em busca de uma análise profunda desses componentes e a melhor indicação possível de qual deles utilizar, dependendo do equipamento onde for instalado.
“O aplicativo liga um software a sensores que identificam parâmetros como vazão, sujeira e rendimento da máquina”, explicou Milton Shishido, um dos integrantes da equipe.
Vitórias
O prêmio recebido pelo time ganhador foi uma passagem e a inscrição para participar da feira MCE Expo Comfort 2020, que será realizada de 17 a 20 de março do ano que vem, em Milão, patrocinada pela Reed Exhibitions Alcântara Machado, que também ofereceu cinco convites aos demais componentes do grupo campeão para que visitem o Salão Duas Rodas, feira voltada para o mercado de motocicletas de equipamentos, de 19 a 24 de novembro, em São Paulo.
Igualmente vitoriosa sentiu-se a Trox Brasil, de acordo com o seu gerente corporativo em engenharia, pesquisa e desenvolvimento, Jorge Zato.
“A importância desse tipo de desafio para o setor é encontrar soluções para problemas corriqueiros. Nós buscamos esse tipo de competição porque precisamos de mentes com soluções inovadoras, fora da caixa. Nós, que estamos acostumados com o mercado e a indústria, tendemos a modificar ideias já existentes. Aquelas completamente novas só saem mesmo com esse tipo de competição”, disse.
Para o professor Eduardo de Macedo, diretor da unidade do Senai sediada no bairro paulistano do Ipiranga, nacionalmente reconhecida como principal centro formador profissional do segmento no País, também foi altamente relevante o fato de alunos da casa terem sido os autores de um trabalho classificado entre os três melhores do Conbrava, na primeira participação que tiveram no grande congresso bienal do setor, uma oportunidade muito bem aproveitada, conforme denota essa colocação tão expressiva.
A satisfação por fazer parte de mais uma Febrava também estava estampada no rosto de Manoel Ferreira, professor da Oscar Rodrigues Alves que há mais de quatro décadas responde pela famosa “carreta-oficina”, que leva o ensino de refrigeração e ar condicionado às localidades brasileiras sem unidade física nessas áreas.
“Para solicitar sua ida a qualquer cidade paulista, basta procurar a escola Senai mais próxima, pois assim nós verificamos a possibilidade de atendimento, o tipo de treinamento a ser oferecido e as datas disponíveis”, ensina ele, lembrando que a solicitação envolvendo outros estados deve sempre ser feita no próprio Departamento Nacional (DN) da instituição.
Mais ensinamentos
Não muito longe dali, numa área de 240 metros quadrados, a Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP) e o Centro Paula Souza (CPS) mostravam, desde a abertura da feira, que o clima de sala de aula também estaria na ilha temática onde mestres e alunos apresentariam o que vêm fazendo todos os dias para melhorar constantemente o nível do nosso HVAC-R.
Prova evidente disto foi o Selo de Inovação da Abrava conquistado pelo robô destinado à inspeção e análise de dutos de ar-condicionado e ventilação, desenvolvido por estudantes da escola localizada no bairro paulistano de Itaquera.
“Na maioria dos casos, esse tipo de tubulação é de difícil acesso ao trabalhador. Daí a necessidade de dispositivos guiados”, explica um dos autores do projeto, Rafael Papis, aluno do curso superior tecnológico de automação industrial da Fatec Itaquera.
Como diferencial deste protótipo, em relação aos demais produtos existentes no mercado, ele destaca a captação e o armazenamento de dados durante a inspeção.
Além do robô inspetor de dutos, outros projetos se destacaram na mostra, caso do kit didático que auxilia a compreensão de conceitos de eletricidade e de perda de carga em dutos de ar-condicionado, apresentado pelos estudantes do curso de gestão de energia e eficiência da Fatec Franco da Rocha; e o refrigerador de latas de bebidas que gela o líquido em cinco minutos.
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Premiações à parte, o professor Paulo Kanayama, titular das áreas de eletricidade e eficiência energética e membro da diretoria da Fatec Franco da Rocha, acredita que todos tenham saído vitoriosos com mais essa participação marcante de sua faculdade, pela terceira vez consecutiva sob a sua coordenação.
“Para os alunos, foi uma oportunidade de conhecer as principais empresas atuantes na área, para apresentarem seus trabalhos acadêmicos e, o principal, sentirem a necessidade que têm de profissionais qualificados”, afirmou.
Já seus colegas professores, ele considera beneficiados pela chance que tiveram de sentir as qualificações necessárias para que os alunos sejam bem aceitos no mundo corporativo.
Boa parte das empresas, no entanto, ele reconhece ter descoberto apenas na Febrava, que as Fatecs formam profissionais para o HVAC-R, tornando assim bem-vindas as parcerias capazes de promover a integração entre academia e indústria.
“Com base nisso tudo, em 2021 tentaremos envolver mais alunos, por achar que a participação na Febrava deva ser cada vez mais incentivada”, concluiu Nakayama.
Estreia automotiva
Cada vez mais presente nos estandes da Febrava ao longo dos anos, o segmento responsável pelo conforto térmico sobre rodas ganhou pela primeira vez uma ilha temática, representando também os fabricantes de ar condicionado para ônibus e máquinas agrícolas.
“É um setor que não tinha voz ativa no mercado e a feira certamente engrossa essa voz, aumentando nossa representatividade”, comemora o coordenador do espaço de 250 metros, ocupado por 12 empresas, Sérgio Eugênio da Silva.
“Começaremos a cuidar da próxima em outubro”, anima-se o profissional, esperando o dobro de tamanho para a segunda edição desta ilha, até mesmo pelo reconhecimento da Reed quanto ao excelente movimento registrado por ela durante os quatro dias da mostra.
“Para você ter uma ideia, está acontecendo a Autonor, em Pernambuco, e a nossa visitação aqui tem sido quase igual à daquele evento como um todo”, exemplificou.
Fatos assim, ancorados nas estimativas de que a Febrava recebeu um público cerca de 30% maior no São Paulo Expo desta vez, foram causa de arrependimento de vários players que declinaram do convite de participar, conta Sergio.
Elas perderam a chance, segundo o coordenador, de estar num ambiente integrando reparação, revendas de peças, pequenos e médios fabricantes e até multinacionais, isto é, uma cadeia completa, reunindo desde o aplicador até a indústria, num ambiente marcado por otimismo e acolhimento, segundo ele.
Não foi à toa que dos mil cartões levados por Sérgio ao evento, acabaram sobrando pouco mais de cem, exemplo dado por ele para ilustrar o sucesso do encontro.
Em conjunto com Nelson Baptista, presidente da comissão organizadora da Feira, o professor está planejando um estreitamento de relações com a EPA, entidade norte-americana do setor automotivo local que realiza, em fevereiro próximo, um evento que ele acredita ter muitas lições a dar ao mercado brasileiro.
Cadeia incrementada
Celebrizada pelo lendário professor Lincoln de Camargo Neves, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, e desde 2015 coordenada pelo também catedrático Eduardo Dória, a ilha que exprime o estado da arte em todas as etapas responsáveis pela conservação dos produtos perecíveis – da lavoura à mesa do consumidor – também fez sucesso nesta Febrava.
Montada em 600 metros quadrados – o quádruplo da área ocupada quatro anos atrás –, ela cresceu e hoje tem 40 participantes, entre ativos e passivos, estes últimos convidados para mostrar dispositivos de seus fornecedores agregados a equipamentos finais.
O volume de acessos ao local também foi grandioso e de excelente qualidade, na avaliação dos próprios expositores, segundo Sérgio.
Um empurrãozinho extra para que isso acontecesse ficou por conta de algumas estratégias colocadas em prática, a fim de tornar mais atraente ainda a visita.
“Teve um expositor da feira que trouxe um baú de sorvete de placa eutética e firmou parceria com um cliente para distribuir sorvetes aqui na ilha”, exemplificou o consultor, ao falar da validade de se recorrer a expedientes lúdicos, gentis e eficientes para mostrar tecnologias e produtos.
É que embora esteja num ambiente agradável e com raiz acadêmica, o expositor de uma ilha quer mostrar, da forma mais eficaz possível, a performance dos seus equipamentos, em busca também da geração de negócios.
O poder da internet igualmente pesa muito no êxito de uma ilha temática, na visão do especialista. Tanto é que a da Cadeia do Frio estreou desta vez um catálogo eletrônico, cujo acesso permitiu antecipadamente aos visitantes saber o que encontrariam por lá, com a possibilidade de acesso a imagens digitais e vídeos dos fabricantes.
Manufatura reversa
Como de costume, boas práticas para adquirir, recolher, reciclar, e introduzir nos equipamentos uma gama de fluidos refrigerantes nociva à natureza deram a tônica de mais uma edição da Ilha do Meio Ambiente.
Isso não significa a ausência de novidades, conforme assegura seu coordenador. “Conseguimos montar um espaço aqui no pavilhão, formado por geladeiras, aparelhos de ar condicionado e eletroeletrônicos antigos”, explicou Paulo Neulaender, referindo-se a parceria firmada com o Instituto GEA – Ética e Meio Ambiente, envolvendo o procedimento conhecido como economia circular.
Com relação às diferenças entre a ilha deste ano e a de 2017, ele ressalta a maior quantidade de técnicos e pessoas realmente interessadas no tema ambiental, dentre os cerca de 1.400 visitantes contabilizados.
Neulaender atribui esse desempenho a novidades como a chegada do R-32 aos splits, bem como o hidrocarboneto R-290, cada vez mais presente nos supermercados.
Tudo isso em meio ao surgimento de ferramentas digitais que transformam qualquer smartphone em poderoso recurso para o pleno controle, a distância, das mais diversas modalidades de instalação do HVAC-R, a exemplo de manifolds que executam toda uma gama de operações praticamente sozinhos.
Para 2021, sua meta é ter esse ambiente até mesmo fora da Ilha do Meio Ambiente, com algum organismo aglutinando as muitas iniciativas que hoje mobilizam os refrigeristas nas mídias sociais, iniciativas consideradas louváveis por ele, porém ainda carentes de uma melhor organização, até mesmo como forma de garantir a veracidade dos muitos conteúdos diariamente postados.