Escassez de HFCs ameaça varejistas europeus
Assim que as drásticas reduções na oferta de refrigerantes à base de hidrofluorocarbonos (HFCs) entrarem em vigor na Europa, alguns supermercados vão sofrer grave abalo financeiro, revela recente avaliação divulgada pela Agência de Investigação Ambiental (EIA, em inglês).
Ao anunciar a publicação da sétima edição de seu relatório Chilling Facts sobre a adoção de tecnologias de refrigeração de baixo potencial de aquecimento global (GWP), a organização não governamental adverte que a oferta de HFCs sofrerá corte de 48% em termos reais – ou seja, após correção para efeito da inflação – no próximo ano.
Enquanto a transição para os chamados refrigerantes “naturais” continua, a EIA prevê altas drásticas nos preços e escassez de abastecimento para os varejistas que ainda não adotaram alternativas favoráveis ao meio ambiente.
Para o atual relatório, 22 varejistas enviaram dados de supermercados oriundos de 37 países para o ano de 2015.
Avaliando o preparo para a regulação de gases fluorados com efeito estufa (f-gases) e o progressivo abandono de HFCs, o relatório cita oito varejistas no topo da lista como Green Cooling Leaders (Líderes em Refrigeração Verde, em tradução livre): Albert Heijn, Aldi Süd, Carrefour, Kaufland, Metro Cash & Carry, Migros, Tesco e Waitrose.
No meio da lista estão Marks and Spencer, Jerónimo Martins, Real, Rewe Germany e Sonae, enquanto Aldi Nord, Delhaize Belgium, Spanish retailer Dia, Auchan Portugal e a irlandesa Musgrave estão abaixo da média.
No caso da alemã Aldi Nord, a EIA critica a falta de investimento em tecnologia livre de HFCs, visto que a empresa possui quase cinco mil lojas espalhadas pela Europa.
A EIA diz que o varejista tem apenas cinco lojas com sistemas em cascata de dióxido de carbono (CO2) na Alemanha e 20 com freezers refrigerados com CO2 na Espanha.
“Varejistas europeus se destacam como líderes globais na adoção da refrigeração comercial sem HFCs, mas, apesar das eficientes e bem estabelecidas alternativas que não utilizam esses gases, os esforços ainda estão aquém do ritmo necessário para atender à redução progressiva estabelecida pela União Europeia”, comentou Clare Perry, a diretora de campanha climática da EIA.
O documento sustenta que, com o objetivo de atender a agenda de redução gradual de HFCs em 2015, deveria haver 9,5 mil sistemas de média temperatura e nove mil de baixa instalados com baixo GWP. A indústria estima que em 2016 havia cerca de 8,7 mil sistemas transcríticos com refrigeração à base de CO2 na Europa.
O relatório insiste que o ritmo em que os varejistas se afastam de HFCs “precisa ser acelerado, a fim de evitar a perturbação associada com os cortes iminentes de oferta e aumento de preços.”
“Além disso, há a preocupação real de que a escassez de HFCs não irá só resultar no descontrole das contas de refrigerantes, mas também fazer com que a atual demanda pesada dos varejistas possa, na verdade, induzir o comércio ilegal deles, fato que testemunhamos quando os hidroclorofluorocarbonos (HCFCs) foram banidos”, acrescentou Clare Perry.
Vazamentos
As taxas de vazamento continuam causando preocupação. Enquanto os gigantes da indústria Albert Heijn, Mega Image, Migros e Waitrose atingem taxas de vazamento de aproximadamente 5% a 7% da carga instalada, a EIA diz que muitos varejistas foram incapazes de fornecer informações sobre elas, apesar do fato de a regulação acerca dos f-gases obrigar a existência dos registros de serviços.
Varejistas que têm consistentemente participado da pesquisa Chilling Fact mostram queda média de 11% nas emissões diretas entre 2013 e 2015. No caso das empresas Jerónimo Martins, Metro Cash & Carry e Waitrose, as emissões diretas tiveram redução superior a 20%.
O documento também afirma que, apesar das medidas de prevenção de vazamentos, quase metade de todo o impacto climático causado por sistemas de refrigeração à base de HFCs é proveniente de vazamentos.
Em 2009, quando o primeiro Chilling Facts foi publicado, as emissões diretas eram frequentemente maiores que as indiretas. Sete anos depois, a EIA relata que as diretas médias permanecem quase iguais às emissões indiretas.
As recomendações do Chilling Facts VII incluem exigir aos varejistas que implementem a refrigeração livre de HFCs em todas as lojas e substituições de máquinas, inclusive a instalação de portas em todas as unidades de refrigeração e freezers.
O relatório pede ainda aos governos que apoiem financeiramente os pequenos usuários finais para que estes possam abandonar os HFCs, além de dar incentivos para portas em refrigeradores.