Instaladores comemoram agenda cheia, mas se preocupam com estoques
Profissionais entendem que demora para reposição de aparelhos pode gerar, no curto prazo, ociosidade no segmento.
Mesmo com a elevação dos preços dos equipamentos de ar-condicionado residenciais e comerciais, o mercado do frio tem aproveitado a explosão nas vendas de aparelhos para recuperar ainda mais o fôlego neste verão.
Impulsionado pelas altas temperaturas registradas no país no segundo semestre do ano passado, o segmento deve prosseguir crescendo mesmo após o fim da estação (20 de março), conforme projetam diversos players. Tal visão é corroborada por indústrias e varejistas. Com agenda cheia, os instaladores têm se desdobrado para atender à crescente base de clientes.
Por outro lado, a altíssima procura por aparelhos de ar-condicionado reduziu drasticamente os estoques nos distribuidores. Com isso, milhares de clientes estão tendo de guardar a reposição dos itens, já prejudicando o andamento do trabalho dos instaladores.
Embora otimista com o crescimento das vendas de ar-condicionado, Helena Bento Furtado, da Instala-Ar, de São Vicente (SP), preocupa-se que o mercado da Baixada Santista vem, como outras regiões do país, enfrentando escassez de estoque por alguns distribuidores, em função do considerável aumento da demanda nos últimos meses.
“Sem o fechamento da venda do produto, consequentemente a instalação não será realizada. Além disso, estamos com um aumento de 20% no volume de pedidos de reparos, limpeza e higienização dos equipamentos usados”, ressalta a empreendedora.
Igualmente preocupado, o proprietário da GLR Climatização, de Vitória (ES), Gabriel Loss, comenta que também há falta de equipamentos de ar-condicionado a pronta entrega, na região onde atua. “Dobrou a procura por novas instalações, mas como está bem difícil de conseguir aparelhos, isso vem afetando bastante o nosso segmento de instalação”, complementa.
O empreendedor relata que, em dias com temperaturas mais amenas, recebe em torno de dez ligações de clientes em busca de informações sobre instalações. Em dias quentes, como os registrados nos últimos meses, esse volume de consultas para orçamentos dobra.
Ainda que tenha registrado 80% de aumento na procura por novos equipamentos, a JH Clima, de São Bento do Sul (SC), está um pouco menos otimista. “O movimento começou a crescer ainda em dezembro de 2023, muito por causa das ondas de calor, mas a elevação dos preços assustou um pouco os clientes, e muitos decidiram deixar a compra para este ano, aguardando uma queda de preço”, afirma a diretora comercial e proprietária da empresa, Jessyka Horn.
Preços elevados
No atual cenário econômico brasileiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro, revelou um aumento expressivo nos preços dos aparelhos de ar-condicionado. Em outubro, os valores sofreram acréscimo de 6,09%, marcando a maior inflação para o produto nos últimos três anos.
A escalada dos preços não se restringiu a outubro, pois, em novembro, uma nova alta foi registrada, atingindo 4,22%. Esse panorama impactou diretamente o bolso dos consumidores, gerando preocupações e repercutindo em diversas regiões do país. Em Porto Alegre (RS), por exemplo, os preços do ar-condicionado apresentaram elevação de 2,08% em outubro, seguida por um aumento mais expressivo de 6,47% no mês subsequente.
De acordo com especialistas do setor, diversos fatores se entrelaçam para explicar essa escalada de preços. A seca histórica na região amazônica, tradicionalmente conhecida como produtora de eletroeletrônicos, exerceu papel crucial nesse contexto. A escassez de recursos hídricos afetou a produção e a distribuição desses equipamentos, impactando diretamente a oferta e, consequentemente, os preços no mercado.
Além disso, a recente onda de calor, que não se limitou apenas ao Sul do país, mas também atingiu outras regiões, como o Sudeste, contribuiu para a elevação da demanda por equipamentos. A busca por soluções para amenizar as altas temperaturas alavancou o mercado de ar-condicionado, gerando um aumento na procura que, por sua vez, influenciou os preços.
Nesse contexto, consumidores, varejistas e analistas econômicos observaram atentamente os desdobramentos dessa conjuntura, buscando compreender as tendências futuras e os possíveis impactos no mercado de eletrodomésticos.
Diferencial tecnológico
A elevação das vendas também ocorreu porque os consumidores estão dispostos a investir um pouco mais de recursos em soluções que proporcionem conforto térmico e sejam energeticamente eficientes e sustentáveis, a exemplo da tecnologia inverter. Ela se tornou um diferencial decisivo na escolha dos clientes, que acabam, no momento da compra, sendo orientados por vendedores ou instaladores.
Entre as vantagens desse sistema está a sua capacidade de ajustar automaticamente a potência do compressor conforme a necessidade de refrigeração, alinhando-se à crescente conscientização ambiental, tornando-se um diferencial decisivo na escolha dos consumidores.
Ao mesmo tempo, a conectividade e a inteligência artificial estão redefinindo a experiência dos usuários de ar-condicionado. Termostatos inteligentes, que aprendem padrões de comportamento e adaptam-se automaticamente, e a possibilidade de controle remoto via aplicativos estão cada vez mais transformando o ato de climatizar ambientes em uma experiência personalizada e eficiente.
Atentos a essas mudanças de preferências, os varejistas já incorporaram estratégias que vão além dos descontos tradicionais. Pacotes promocionais que incluem serviços de instalação e garantias estendidas se destacam como diferenciais competitivos, conquistando a confiança e fidelidade dos consumidores.
Quanto às perspectivas para os próximos meses, o cenário permanece sujeito a uma série de variáveis que podem influenciar a trajetória dos preços dos aparelhos de ar-condicionado no Brasil. A interação entre fatores climáticos, condições de oferta e demanda, bem como eventos econômicos, desempenhará um papel determinante nesse panorama.
A continuidade da seca na região amazônica pode manter a pressão sobre a produção de eletroeletrônicos, afetando a oferta desses produtos no mercado. Se a escassez de recursos hídricos persistir, é possível que os custos de produção e logística permaneçam elevados, contribuindo para a manutenção ou até mesmo o agravamento das altas nos preços.
Adicionalmente, as condições climáticas, como ondas de calor, continuarão a influenciar a demanda por ar-condicionado. Caso o país enfrente um verão mais intenso, a procura por esses equipamentos pode se manter alta, exercendo pressão adicional sobre os preços. Contudo, é importante considerar que fatores sazonais, como a mudança de estações, também podem influenciar a dinâmica do mercado.
Eventos econômicos globais, como variações nas cadeias de suprimentos – incluindo falta de microprocessadores – e oscilações nas taxas de câmbio, podem adicionar uma camada de complexidade às tendências de preços. A interconexão entre a economia brasileira e os mercados internacionais pode amplificar ou mitigar os impactos locais, dependendo das circunstâncias.
Portanto, a evolução dos preços dos aparelhos de ar-condicionado, nos próximos meses, dependerá de uma combinação de fatores. Para quem faz parte desta cadeia produtiva, a análise cuidadosa desses elementos e a monitorização constante do mercado continuarão a ser essenciais para compreender e antecipar possíveis mudanças, proporcionando uma base sólida para tomadas de decisões por parte dos consumidores e do setor empresarial.