2009, segundo as entidades do setor
Comparado a outros países, o Brasil está numa posição privilegiada sob o ponto de vista econômico. O amplo mercado interno, a solidez das instituições financeiras até aqui e a política razoável de controle fiscal somam-se ao grande potencial da agropecuária e ao parque industrial moderno que podem garantir o crescimento do HVAC-R em 2009.
Em linhas gerais, é assim que o empresário José Rogelio Medela, presidente do Sindratar-SP (Sindicato da Indústria de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento do Ar no Estado de São Paulo) e diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) justifica sua expectativa de ver o setor continuar crescendo de 2,5% a 3%, a reboque da construção civil, da refrigeração comercial e dos sistemas de ar condicionado central. “No que diz respeito aos splits, a expansão deverá ser ainda maior”, prevê.
Em 2008, segundo ele, a facilidade de acesso ao crédito favoreceu o consumo e, conseqüentemente, a procura por unidades residenciais, ficando a cargo das redes de hipermercados o forte impulso sentido na demanda por instalações comerciais. “A indústria da construção e os setores correlatos também puxaram nosso crescimento”, completa Medela.
Números preliminares da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento) revelam que o HVAC-R nacional fechou 2008 faturando perto de R$ 19 bilhões, por meio de suas redes de indústria (R$ 14,9 bi), comércio (R$ 2,2 bi) e serviços (R$ 1,6 bi).
Segundo a entidade, os resultados de 2008 foram 5% superiores aos de 2007, e o setor mostrou-se aquecido até o mês de outubro, apoiado em preços competitivos, boa oferta e crédito farto. Quanto às exportações das empresas que participam do Programa Abrava Exporta, o crescimento foi de 148%, comprovando com isso o potencial do segmento no mercado internacional e a eficácia das ações de divulgação realizadas em parceria com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção das Exportações).
Cenários regionais
Já no Sul do País, o conceito de conservação energética vai ganhar mais força em 2009, criando espaço para as tecnologias de aquecimento solar de água. A informação é do presidente da Asbrav (Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Aquecimento e Ventilação), Eduardo Hugo Müller. “Por outro lado, a refrigeração comercial dependerá da posição da agropecuária sulista quanto às exportações, mas a áreas de climatização e conforto térmico doméstico permanecerão crescentes”, revela.
Em Pernambuco, empreendimentos petrolíferos e navais abrem horizontes positivos para o HVAC-R. “Estamos vivendo um momento muito especial. Inúmeros projetos estão em andamento e os investimentos nessas obras estruturadoras não têm como parar, uma vez que foram programados e iniciados antes do estouro da recessão na Europa e nos EUA”, relata o presidente do Sindratar-PE, José Carlos de Araújo da Silva Jr, ressaltando que, para os pernambucanos, 2008 foi melhor que 2007. “Toda a cadeia da refrigeração e climatização irá crescer em decorrência da construção de refinarias e estaleiros, pois a volume financeiro investido nesses grandes projetos incentiva o comércio, atrai profissionais, alavanca a construção civil e, por fim, eleva a produção de condicionadores de ar domésticos”, avalia o empresário.
Ao contrário de seus pares, o presidente do Sindratar-RJ, Celso Guimarães, não crê no crescimento do setor em 2009. “O quadro econômico deverá se agravar. Com relação ao mercado no Rio de Janeiro, estou muito triste, pois ele está retraído e as empresas, definhando”. “No ano passado, vi apenas uma firma crescer no estado”, acrescenta.
Para enfrentar as turbulências que se sucederão, o Sindratar do Rio, assim como outras entidades, espera alinhar mais ainda o setor de ar condicionado às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). “Hoje, qualquer um instala um split e a normalização será fundamental para que o setor não fique tão prostituído, pois ainda há muita gente cobrando valores ínfimos nessa área. Desse jeito, empresas idôneas e que empregam profissionais capacitados ficam sem condições de enfrentar esse tipo de concorrência”, dispara.
Visão acadêmica
Haja o que houver no mercado em 2009, o futuro do setor em médio e longo prazos continuará dependendo, em grande parte, do que se passa em laboratórios e salas de aula. Essa crença faz gente como Antonio Luís de Campos Mariani, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, vincular um crescimento realmente consistente ao efetivo investimento em qualificação de mão-de-obra.
Vice-presidente do capítulo brasileiro da Ashrae (Associação Americana de Engenheiros de Aquecimento, Ar Condicionado e Refrigeração), o professor explica que a demanda por profissionais qualificados crescerá em função das normas editadas pela ABNT, consideradas um grande avanço para a garantia da qualidade nas instalações.
“O volume de teses e dissertações produzidas está aumentando. No entanto, as universidades não conseguirão formar número suficiente de engenheiros nos próximos anos. Investimentos pesados como os da Petrobras e da Vale do Rio Doce têm absorvido grande quantidade desses profissionais, reduzindo sua presença em alguns setores, como o HVAC-R, que têm dificuldades em buscá-los no mercado”, informa. “No contexto da Ashrae, estamos trabalhando para trazer ao País novas publicações em português de suas normas e esperamos conseguir mais parceiros para conduzir processos e certificações de profissionais em 2009”, completa.
Segundo o professor Lincoln de Camargo Neves Filho, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp (Universidade de Campinas), a formação adequada de mão-de-obra e os investimentos em ciência e tecnologia serão mesmo cada vez mais necessários. “O mercado brasileiro não será destruído pela crise, mas temos de nos preparar para ficarmos menos vulneráveis, a fim de aproveitar todo o potencial que o País oferece”, afirma.
Com o avanço da tecnologia e a evolução dos sistemas de qualidade, o controle de contaminação em áreas fechadas é outro segmento que prima pelo alto nível de seus profissionais como aspecto primordial de crescimento. Afinal, cada vez mais está sendo incorporado às prática de excelência das indústrias químicas, farmacêuticas, biotecnológicas, alimentícias, entre outras, fato que gera grande demanda por produtos e instalações hi-tech e um estado de ânimo permanentemente voltado à pesquisa.
Na Sociedade Brasileira de Controle da Contaminação, por exemplo, grupos de estudo específicos agregam empresas, fornecedores e profissionais de várias áreas, visando promover e viabilizar o avanço de novos processos de normalização e discussão científica. “Com a posse da nova diretoria em 2008, houve uma revisão no planejamento estratégico nessa gestão, visando maior abrangência da entidade em nossa missão de disseminar conhecimento e experiência no decorrer dos próximos anos”, garante o engenheiro mecânico Martin Lazar, editor-chefe da Revista da SBCC, ao também prever boas perspectivas para o novo ano.