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Plano de Segurança da Água reduz risco de Legionella em edifícios

A Legionella voltou, recentemente, a ser destaque no noticiário internacional. Certamente, foi uma grande história em 1976, quando um surto de uma doença misteriosa ocorreu durante uma convenção dos legionários americanos em um hotel da Filadélfia.

A investigação resultante conduzida pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA produziu matérias televisivas dramáticas e muitas reportagens de capa de revistas conceituadas.

No fim, as autoridades de saúde pública identificaram a bactéria culpada pela enfermidade e a denominaram Legionella. Apesar do descobrimento tardio, a doença não é rara.

Presente em torres de resfriamento, fontes decorativas, banheiras de hidromassagem, lava-rápidos e até em consultórios dentários, este micro-organismo é responsável por matar em torno de cinco mil pessoas no Brasil todos os anos, segundo dados extraoficiais.

Atualmente, novos surtos de doença do legionário – um tipo de pneumonia potencialmente fatal também conhecida como legionelose – continuam a ser relatados nos EUA e em todo o mundo.

Segundo a imprensa portuguesa, só no ano passado, 233 casos da doença foram confirmados no país europeu. Em 2014, outro surto afetou 375 pessoas e provocou 12 mortes em Portugal.

Em abril do ano passado, jornais australianos informaram que 92 sistemas de ar condicionado instalados em edifícios do bairro empresarial de Melbourne tiveram de ser desinfetados após a confirmação de seis casos de legionelose.

No fim de janeiro, os resultados de ensaios preliminares mostraram a “possível presença” de Legionella em um “dead leg” do sistema de abastecimento de água do Illinois Capitol Complex, em Springfield, Illinois, de acordo com o State Journal-Register.

“Dead legs” são trechos da tubulação em que o fluxo de água está estagnado e os fluidos de limpeza não circulam.

Exemplos como este caso provam que são necessárias mais pesquisas para identificar as melhores estratégias para prevenir futuros surtos da doença do legionário também a partir do sistema de abastecimento de água.

Segundo especialistas no assunto, é importante entender, primeiramente, os elementos-chave que podem fornecer o ambiente ideal para o crescimento de Legionella em um sistema de água.

Quanto mais água estiver em um sistema ou tubulação, maior a probabilidade de o agente de limpeza se dissipar com o tempo, levando ao crescimento do patógeno.

Quando o biofilme, uma substância pegajosa criada por bactérias, se forma na parede interna da tubulação de abastecimento de água, ele protege a Legionella do calor e do desinfetante. E a água morna, geralmente na faixa de 25 ºC a 42 ºC, propicia a formação de colônias da bactéria.

Uma vez que cresce, a Legionella pode ser potencialmente espalhada por qualquer componente do sistema de encanamento que gere um aerossol ou uma fina névoa de água.

Grandes sistemas de encanamento complexos, como aqueles instalados em hospitais e navios de cruzeiro, são mais frequentemente associados com surtos de doença do legionário, o que é especialmente problemático para pessoas com imunidade baixa, idosos e crianças.

A Legionella também é causadora da febre de Pontiac, uma doença pouco severa cujos sintomas são semelhantes a uma gripe comum.

Embora sejam bastante comuns em ambientes aquáticos, as bactérias do gênero não são abundantes, o que significa que raramente formam grandes colônias. Mas quando elas entram em uma torre de resfriamento, as coisas mudam.

A combinação de recirculação de água morna, na faixa de 27ºC a 35ºC, grandes áreas de superfície para troca de calor e um fluxo contínuo de nutrientes do processo de resfriamento (ou aquecimento) cria condições perfeitas para que elas cresçam nas bandejas de condensados, por exemplo.

De acordo com profissionais de engenharia, torres de resfriamento que são bem projetadas, mantidas e desinfetadas dificilmente propiciam a proliferação de Legionella. Quase todos os surtos documentados mundo afora estão associados a problemas de projeto, manutenção ou desinfecção – geralmente todos os três.

Segundo a Conforlab Engenharia Ambiental, 21% das amostras de água recolhidas em torres de resfriamento em empresas brasileiras estão contaminadas com a bactéria, incidência similar à de outros países, incluindo os EUA.

“As pessoas que trabalham em ambientes contaminados, principalmente perto de sistemas com água em aerossol, estão mais expostas à Legionella”, diz o diretor da empresa, Leonardo Cozac.

“A melhor forma de prevenção é fazer um Programa de Segurança da Água, conforme descrito na Portaria nº 2.914/2011, do Ministério da Saúde. Neste plano estão previstas as formas de controle, análise, tratamento e plano de ação quando for encontrada a bactéria”, acrescenta.

Segundo ele, não existe uma fórmula ou equipamento único para descontaminar a água e o equipamento ou para prevenir a presença da bactéria.

“A avaliação deve ser feita caso a caso por um especialista. As formas mais comuns de descontaminação são a elevação da temperatura da água acima de 65 ºC, supercloração e limpeza de todo o sistema”, explica.

Gestão de risco

A maneira mais abrangente e eficaz de reduzir o risco de surtos de doença do legionário é projetar, implementar e atualizar regularmente um plano geral de segurança da água do edifício.

Este plano deve se basear em um estudo de engenharia do sistema de água do prédio e considerar quaisquer condições potencialmente perigosas e áreas propícias para o desenvolvimento de patógenos, além de adotar as melhores práticas do setor para evitar contaminações.

Publicada em 2015, a Ashrae 188 – Legionelose: Gerenciamento de Risco para Sistemas de Água Prediais – estabelece requisitos mínimos de gestão de risco para controlar a transmissão da legionelose por meio de sistemas de abastecimento de água.

O design também desempenha um papel importante na redução do crescimento de Legionella em sistemas de encanamento. A seção 8 da norma detalha a necessidade de documentar adequadamente o projeto de sistemas de encanamento de um edifício, identificar áreas de potencial amplificação de patógenos e eliminar fontes que possam contribuir para potenciais surtos, tais como “dead legs”.

A seção 8 também detalha as melhores práticas de desinfecção do sistema, a necessidade de comissionamento e de retrocomissionamento periódico e muito mais.

A cidade de Nova York já assumiu a liderança nessa área, adotando partes da norma para o controle da Legionella em torres de resfriamento, em resposta a um grande surto da doença do legionário em 2015.

Novos métodos de dimensionamento de tubulações para sistemas de encanamento de edifícios também terão um papel importante na mitigação do crescimento de Legionella, de acordo com especialistas.

De fato, a sociedade já percorreu um longo caminho desde 1976. No entanto, muita pesquisa ainda precisa ser feita e os proprietários de edifícios e gestores de instalações terão de ser instruídos sobre as novas e emergentes estratégias que ajudarão a reduzir os riscos de futuros surtos de legionelose.

Melbourne registra surto de legionelose

Noventa e dois sistemas de ar condicionado instalados em edifícios do bairro empresarial de Melbourne foram desinfetados após a confirmação de seis casos da doença do legionário, uma forma severa de pneumonia causada pela Legionella pneumophyla e outras bactérias do gênero.

Na quarta-feira (12/4), o departamento de saúde do estado australiano de Vitória informou que os cinco casos identificados entre o final de março e início de abril envolvem pessoas que passaram algum tempo na parte oriental do Distrito Central de Negócios da capital e Southbank.

A rede ABC News também relatou que um sexto caso foi identificado, e que mais outros dois estão sob investigação. Segundo as autoridades locais, houve um total de 26 casos notificados da doença em Vitória este ano, ante 21 casos registrados no mesmo período do ano passado.

Na avaliação de especialistas e autoridades de saúde, as probabilidades de pegar a doença do legionário em Melbourne são muito pequenas.

Torres de resfriamento

As bactérias do gênero Legionella são relativamente comuns em ambientes aquáticos. No entanto, elas não são abundantes, o que significa que raramente formam grandes colônias. Mas quando elas entram em uma torre de resfriamento, as coisas mudam.

A combinação de recirculação de água morna (de 27℃ a 35℃), grandes áreas de superfície para troca de calor e um fluxo contínuo de nutrientes do processo de resfriamento (ou aquecimento) cria condições perfeitas para que esses micro-organismos cresçam num limo chamado biofilme.

Torres de resfriamento que são bem projetadas, mantidas e desinfetadas dificilmente causam a proliferação de Legionella. Quase todos os surtos documentados estão associados a problemas de projeto, manutenção ou desinfecção – geralmente todos os três.